Mensagem para o Ramadã 1446 e Quaresma 2025 – Comissão OFM para o Serviço do Diálogo

Aos nossos queridos irmãos e irmãs muçulmanos e cristãos,

Que a Paz de Deus esteja com todos vocês!

Também neste ano, Deus quis que nós, muçulmanos e cristãos, entrássemos juntos neste “tempo favorável” (2 Coríntios 6:2), onde Deus nos diz “em verdade, estou perto” (Alcorão 2:186); neste tempo em que recordamos a revelação do Sagrado Alcorão (Alcorão 2:185) e em que recordamos os quarenta dias passados ​​por Jesus no deserto onde foi tentado antes de iniciar a sua vida pública e a sua pregação (Marcos 1:12-13). Nestas semanas rezaremos, jejuaremos e daremos esmolas juntos, segundo as nossas tradições, sob o olhar de Deus “que vê em segredo” (Mateus 6:4), “adorando a Deus como se O víssemos, (sabendo que) se não O vedes, Ele vos vê” ( Sahîh di Muslim).

Também neste ano, este mês sagrado cai em um momento de turbulência, violência, guerras e incertezas geopolíticas que semeiam medo, ódio e dúvida nos corações de muitos fiéis. Não mais trégua santa, nem luz perceptível de esperança para tantos povos deslocados, expulsos ou humilhados… O Papa Francisco, neste contexto incerto e doloroso, quis colocar o Jubileu da Igreja de 2025 sob o signo da esperança . Essa tradição dos anos de Jubileu é muito antiga: para o povo judeu, a cada cinquenta anos ela dava origem à restituição de terras, bem como à libertação de prisioneiros e escravos. Colocar este ano hoje sob o signo de uma peregrinação de esperança significa convidar os fiéis a aplicar o bálsamo da esperança nas feridas do nosso mundo sofredor.

No entanto, nossas duas tradições dão um lugar especial à esperança. Na tradição islâmica, a esperança (الرجاء) é acima de tudo a esperança na misericórdia de Deus: “Ó filho de Adão! Certamente, se você vier a Mim com o equivalente à terra cheia de pecados, mas Me encontrar sem ter associado nada a Mim, então Eu o encontrarei com o mesmo perdão” ( Hadith charif ). Essa esperança nos convida a nos submetermos ao plano de Deus com fé. Para os cristãos, a esperança se baseia na vitória já conquistada por Cristo por meio da sua Ressurreição (“Coragem, eu venci o mundo!”, João 16,33). Deus então nos pede para “participar cada vez mais ativamente da obra de Deus” (1 Coríntios 15:58), já vitoriosa, mas em processo de realização e revelação. Entre o acolhimento na fé e o compromisso na caridade, nossas tradições respondem e se encorajam mutuamente. Eles nos estimulam e encorajam a “superar uns aos outros em boas ações” (Alcorão 5:48).

Rezemos, portanto, uns pelos outros para que possamos permanecer firmes na esperança em meio a um mundo em crise. E recebemos uns dos outros a graça dessa diferença na maneira de entender e viver a esperança que nos ajudará a ser melhores diante de Deus e diante dos homens.

Então poderemos entrar neste caminho que São Francisco de Assis nos abriu há oitocentos anos ao proclamar o seu “ Cântico das Criaturas ”.

Altíssimo, Todo-Poderoso Bom Senhor, teus são os louvores, a glória, a honra e todas as bênçãos. 
Somente a ti, ó Altíssimo, elas pertencem, e ninguém é digno de mencionar-te. (…)
Louvado sejas, meu Senhor, por aqueles que perdoam em nome do Teu amor 
e suportam a dor e a doença. Bem-aventurados os que os suportam serenamente, 
porque por ti, Altíssimo, serão coroados. (…)
Louvai e bendizei ao meu Senhor, 
agradecei-lhe e servi-o com grande humildade.

O homem que assim canta sobre seu Deus e a beleza de sua criação fica quase cego e seu corpo é destruído pela fadiga e pela doença. Ele vive em um mundo violento e em profunda crise. Contudo, ele sabe abrir os olhos para o plano eterno de Deus que torna todas as suas criaturas irmãs reconciliadas. Que esta graça de esperança e de reconciliação definitiva, já palpável e perceptível em Francisco, seja concedida a todos nós nestes meses santos.

Feliz e Santo Ramadã e Quaresma a todos!

Comissão Geral da Ordem dos Frades Menores para o Serviço do Diálogo

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fonte: https://ofm.org/messaggio-in-occasione-del-ramadan-1446-e-della-quaresima-2025.html