Missão Franciscana do MT e MS

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Notícias › 12/06/2022

Necrológio de Frei Nelson Bernardes Martins, OFM

SUAS ORIGENS

Frei Nelson Bernardes Martins, OFM, nasceu em Paranaíba, MS, aos 21 de dezembro de 1939. Filho de Francisco Nelson Bernardes e Lázara Bernardes Martins, pais de quatro filhos: Maria, a mais velha; Nelson, o segundo filho, Aurora e Francisco, o caçula, que tinhaapenas dois meses de vida quando seu pai faleceu, vítima de um galho de árvore que caiuem sua cabeça quando fazia o aceiro na roça de milho.

Foi batizado por Frei Vunibaldo Talleur, OFM, aos 3 de junho de 1940, durante uma “desobriga”, como era chamada a atividade missionária no sertão, realizada ao menos uma
vez por ano ou com maior frequência. Quando seu pai faleceu, aos 29 de agosto de 1944, Nelson tinha 4 anos de idade.

Foram,sua mãe e os filhos, dois ou três anos depois, morar em Aparecida do Taboado, MS. Em 1949, o adolescente Nelson ficou morando com uma tia, em Fernandópolis, SP, para
estudar, e trabalhava com os primos na cultura do algodão. “Foi uma experiência bem
dolorosa. Mas isto tambem somou na minha formação pessoal. A vida nos ensina.” –
escreveu ele. Para ele, o exemplo de sua mãe Lázara foi a maior influência que ele teve em sua vocação.

De volta a Aparecida do Taboado, foi coroinha e fez a Primeira Eucaristia e a Crisma. Como ele mesmo conta: “Em 1951, saímos de Aparecida do Taboado para Agudos, SP. Mamãe foi ser doméstica na casa dos Franciscanos que moravam e trabalhavam na Fazenda Santo Antônio, da Província da Imaculada.” Nesta fazenda, estava o grande Seminário Santo Antônio.

Os Frades Franciscanos atenderam a Paróquia Sant’Ana, de Paranaíba, nos anos 1940 a
1963, e, de 1941 a 1955, a Paróquia Nossa Senhora Aparecida, de Aparecida do Taboado.
Apesar de ter vivido pouco tempo no interior de Paranaíba, na região chamada Córrego do Mato, e mais tarde em Aparecida do Taboado, Frei Nelson guardou boa memória de frades
que por aí passaram. Dentre eles, destacam-se Frei Pedro Holz e Frei Canuto Amann,
“médico do sertão”. Este último deixou sua lembrança bem viva na memória do menino
Nelson. Ele conta: “Uma vez peguei a febre amarela, outra vez a pereba – feridas na cabeça.

O Frei Canuto, com suas ervas medicinais, foi o meu médico. Passava o remédio nas feridas e eu devia ficar de repouso até secar. Aí o Frei me punha um catecismo nas mãos e marcava
até onde eu tinha que decorar. Com certeza este gesto me marcou profundamente.”

De Frei Canuto o menino Nelson ganhou uma caixa de engraxate, em Aparecida do
Taboado, com a qual ajudou nas despesas de sua família pobre. Faz bem ouvir o que Frei
Nelson mesmo escreveu: “Eu era muito maroto, gostava mesmo era de brincar. Deixava a caixa de engraxate no coreto da praça da Matriz e ia jogar bola com a rapaziada na praça
da Matriz – campinho de terra.

A bola era uma bexiga de porco ou de pé de meia cheia de terra. Eu ficava de olho no movimento da rua, onde havia um bar que era o ponto de parada da ‘Jardineira’ que fazia o transporte de Cuiabá para São Paulo. Ali era parada obrigatória, pois a travessia do Rio Paraná era feita por balsa e esta não funcionava à noite. Eu deixava o jogo e corria ao bar e pedia para engraxar o sapato de algum passageiro. Mas, principalmente, pedia as botas do motorista, que era o dobro do valor cobrado.

Com isto eu ganhava o dia, que dava para levar o leite e o pão para casa.” Entre as muitas brincadeiras da infância com seus irmãos, havia também a de “rezar missa”, quando então
Nelson era o padre. Sua vocação franciscana
Inspirado no exemplo de vida de Frei Canuto, em especial, e de outros frades, o jovem Nelson, tendo herdado o nome de seu pai, desejou herdar também a herança dos frades franciscanos.

Nos anos de 1953 e 1954, frequentou o Seminário Frei Galvão, de Guaratinguetá, SP, onde concluiu o ensino primário. De 1955 a 1961, frequentou os cursos ginasial e colegial no
Seminário Santo Antônio, de Agudos, SP.
Entrou no Noviciado, em Rodeio, SC, na Província Franciscana da Imaculada Conceição,
em 19 de dezembro de 1961, dois dias antes de completar seus 22 anos de idade.

Fez sua primeira profissão dos votos em 20 de dezembro de 1962. Fez os estudos de Filosofia
em Curitiba, nos anos de 1963 a 1964, e os de Teologia em Petrópolis, de 1965 a 1968. Sua
profissão solene na vida religiosa franciscana foi dia 1º de agosto de 1966, e sua ordenação sacerdotal, em 16 de dezembro de 1967.

Na lembrança de sua ordenação está o texto de Jeremias 1,7: “Vai a todos aqueles aos quais eu te enviar. A eles anuncia o que eu te ordenar. Não temas, porque eu estou contigo”.

SUA VIDA PASTORAL E MISSIONÁRIA 

De dezembro de 1968 a dezembro de 1972, Frei Nelson trabalhou na Paróquia de Santa  Rita, em Sorocaba, SP, como vigário paroquial, e aí fez a experiência do Cursilho de Cristandade, que, segundo ele, marcou profundamente seu ministério. Daí foi para a Paróquia Santo Antônio, em Bauru, SP, onde foi vigário paroquial (1973 a 1976), superior e pároco (1977 a fevereiro de 1983). Fez o curso do CEFEPAL, em Petrópolis, RJ, de março a dezembro de 1983, indo em 1984 para Pinhão, PR, na Paróquia Divino Espírito Santo, onde foi superior e pároco. Em janeiro de 1989, foi transferido para Ituporanga, SC, na Paróquia Santo Estêvão, onde foi pároco e guardião.

A partir de fevereiro de 1992, foi vigário paroquial e vigário da Casa em Santo Amaro da Imperatriz, SC, na Paróquia Santo Amaro. Em maio de 1993, estava em Xaxim, SC, como vigário paroquial na Paróquia São Luiz Gonzaga. Neste ano, fez a peregrinação aos lugares santos da Europa e de Israel.

Em 21 de dezembro de 1993, Frei Nelson pediu ao então ministro provincial da Província  Franciscana da Imaculada Conceição, Frei Estêvão Ottenbreit, OFM, sua transferência para a Custódia Franciscana das Sete Alegrias de Nossa Senhora, como missionário. Ele partiu de Xaxim no dia 27 de fevereiro de 1994 e chegou a Campo Grande, MS, no dia 1º de março de 1994. Daí foi para Colíder, MT, na Paróquia São João Batista, como vigário paroquial. De janeiro de 1995 a janeiro de 2000, foi pároco em Itaporã, MS, na Paróquia São José.

A partir de fevereiro de 2000, foi vigário paroquial na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Rondonópolis, MT, e depois, com a nomeação de Frei Sebastião Assis de Figueiredo como bispo de Guiratinga, foi nomeado administrador paroquial. Em janeiro de 2002, foi nomeado pároco da Paróquia São Pedro Apóstolo, em Pedra Preta, MT, onde ficou até janeiro de 2006. De volta a Rondonópolis, foi vigário paroquial na Paróquia Sagrado Coração de Jesus durante este ano, morando no Seminário São Francisco. Nos anos de 2007 e 2008, esteve em Cuiabá, MT, como vigário paroquial nas paróquias Nossa Senhora da Boa Morte (agora Paróquia Nossa Senhora Mãe dos Homens) e Nossa Senhora de Guadalupe. De 2009 a 2011, foi pároco na Paróquia Divino Espírito Santo, em Rio Brilhante, MS. De 2012 a 2017 estava em Rondonópolis, MT, como vigário paroquial na Paróquia Sagrado Coração de Jesus.

Em 9 de outubro de 2014, Frei Nelson tomou a decisão de permanecer na Custódia das Sete Alegrias pelo “resto da minha vida”, como ele se expressou em sua carta de pedido, o que foi confirmado no Congresso Capitular de 4 a 6 de novembro de 2014. A partir de janeiro de 2018, Frei Nelson era vigário paroquial e animador vocacional na Paróquia Divino Espírito Santo, em Rio Brilhante, MS. Mas, em agosto do mesmo ano, ele é foi transferido para Rondonópolis, MT, morando no Seminário São Francisco de Assis, como vigário paroquial da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, onde ficou até dezembro de 2019, quando a doença (miastenia gravis) começou a lhe incomodar…

Por onde passou, Frei Nelson foi sempre empenhado no trabalho pastoral e deu  atendimento às mais diversas pastorais e movimentos eclesiais: Legião de Maria,  Apostolado da Oração, Cursilhos de Cristandade, Equipes de Nossa Senhora, Encontro de Casais com Cristo, Pastoral da Juventude, Renovação Carismática Católica, Serviço de Animação Vocacional etc.

A todos e com todos, Frei Nelson buscava ser próximo, amigo, pastor, presença de alegria franciscana. Como “trabalhos preferidos”, ele tinha os seguintes: o confessionário (“Além das celebrações da Eucaristia, Batismo e casamentos, o que mais me gratifica é o Sacramento da Reconciliação”), celebrar a Eucaristia, a pastoral paroquial, o acompanhamento dos Movimentos.

Como ideias-força de sua espiritualidade: “começar todos os dias de novo, a Palavra de Deus, a oração, os sacramentos”. Suas devoções preferidas: Eucaristia, Maria, Santo Antônio, Santa Teresinha do Menino Jesus.

O seu pensamento sobre a vida religiosa franciscana: “é o melhor caminho de viver a fraternidade”. Ele assim escreveu: “Sempre procurei acolher as transferências como sendo a vontade de Deus” e “Guardo boas lembranças de todos os lugares por onde passei. Não dá para falar das pessoas, pois são tantas. Estão registradas no coração.”

De família numerosa, Frei Nelson estava sempre “conectado” com os parentes, através de mensagens e telefonemas. Participante da vida fraterna. Exemplo de piedade. Simples,  disponível, sempre a serviço. Preferia errar tentando servir do que ficando na ociosidade.

Frade que tem muito a nos ensinar na vivência de nossa vocação franciscana. Em 14 de agosto de 2014, ele assim se expressou: “Sou um frade e sacerdote realizado. Só  desejo perseverar assim até o fim de minha vida, para a maior glória de Deus!”

E A “IRMÃ DOENÇA” APARECEU, SORRATEIRAMENTE 

No dia 21 de dezembro de 2019, Frei Nelson foi trazido pelo guardião Frei Valdemílson Santos da Silva ao Convento São Francisco, em Campo Grande, MS, depois de apresentar dificuldades para falar e comer. Feitos diversos exames e consultas médicas, ele foi diagnosticado com “miastenia gravis”, doença autoimune – causada por disfunção do sistema imunológico – em que a comunicação entre os nervos e os músculos é afetada, produzindo episódios de fraqueza muscular. Começa aí um longo e paciente tratamento, com ajuda de fonoaudióloga, nutricionista e consultas periódicas para acompanhamento da medicação.

Frei Nelson até tentou, com insistência, voltar às suas atividades em Rondonópolis, mas não conseguia dar conta. Voltou ao tratamento, morando na Fraternidade Santa Isabel da Hungria, iniciada em 17 de setembro de 2020, no Hospital São Julião, em Campo Grande, e depois no Convento São Francisco, para ser mais de perto acompanhado e cuidado.

O tratamento mexeu com sua paciência, exigiu dele muita resiliência e fortaleceu, certamente, a sua fé. Enquanto conseguia, celebrava a Missa diariamente. Sempre que possível, gostava de tomar as refeições com os confrades e participar das confraternizações semanais. Fazia muito esforço para parecer bem e disposto, mostrando-se capaz.

À medida que a doença progrediu, Frei Nelson precisou ser internado ao menos duas vezes no hospital. Na manhã do dia 10 de junho, ele ficou muito mal. Internado, resistiu ainda um dia no hospital, vindo a falecer no início da tarde do dia seguinte, pelas 13h. Ao concluir estas palavras, acredito ser edificante para nós, viventes, ouvir o que Frei

Nelson diz de si mesmo:

“A coisa mais difícil é a gente falar de si mesmo. Mas, em sinal de obediência ao que está sendo pedido, vou tentar: sou uma pessoa ao mesmo tempo simples e complicada. Sou tímido, reservado, de pouca conversa, prefiro ficar na escuta do que na exposição das ideias. Sou atento ao que acontece e estou sempre pronto para prestar ajuda. Me satisfaço, me contento com pouco. Um pouco desleixado comigo mesmo e com as ‘minhas’coisas. Preocupo-me mais com os outros do que comigo mesmo. Atencioso, gosto de servir. Sensível, profundamente religioso. De poucas diversões. Sou muito família. Faço amizades com facilidade. Amigo de todos.”

(Frei Nelson Bernardes Martins, OFM –  Rondonópolis, MT, 14/08/2014)

Que Deus o acolha na Fraternidade do Céu!

Frei Aluísio Alves Pereira Júnior, OFM

Secretário custodial

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