Frei Rogério Viterbo de Sousa, OFM
A vida dos santos e santas de Deus sempre me encantou. Refletindo por vezes a importância de seus testemunhos de vida e santidade, especialmente dos santos e santas franciscanos, coloquei-me a pensar no poder da intercessão deles. Aprendi, desde tenra idade, que a Santa Mãe Igreja ensina que devemos suplicar a intercessão dos santos e das santas, venerar suas imagens, prestar-lhes culto e rogar sua intercessão. Aprendi, na catequese, que a intercessão dos santos e das santas não substitui a mediação única de Nosso Senhor Jesus Cristo, ao contrário, a reforça, pois, sem a mediação única e indispensável de Nosso Senhor Jesus Cristo, nenhuma outra intercessão teria valor, já que todas são feitas através e em nome d’Ele.
Confesso que sempre rezei e rezo pedindo a intercessão da Santíssima Virgem Maria, de São José, do Seráfico Pai São Francisco de Assis, de Santo Antônio de Sant’Ana Galvão, dos santos e santas franciscanos, enfim, dos santos e santas de devoção. Hoje sei mais claramente, que a santa Igreja não receia invocar a intercessão dos santos, das santas e de suas preces por nós diante de Deus. Isto não é uma intercessão concorrente à de Nosso Senhor Jesus Cristo, nem substitutiva à d’Ele; ao contrário, é subordinada a ela. Isto tudo sempre foi muito claro para mim.
Recentemente, rezando pela humanidade, me veio à mente uma oração do Seráfico Pai São Francisco de Assis. Eu que rezo sempre pedindo a sua poderosa intercessão, deixei-me ser inspirado pelo poder de suas palavras e rezei assim: “Ó glorioso Deus altíssimo, iluminai as trevas do meu coração, concedei- me uma fé verdadeira, uma esperança firme e um amor perfeito. Dai-me, Senhor, o (reto) sentir e conhecer, a fim de que possa cumprir o sagrado encargo que na verdade acabais de dar-me. Amém”1.
Admito que, no intervalo de cada palavra rezada, fui sendo inquietado pela clareza da oração do Pobrezinho de Assis. Percebi, então, a humildade e o poder desta sua oração. Já havia rezado esta oração tantas e tantas vezes, mas sem descobrir toda a sua profundidade. Desta vez havia encontrado. Sem titubear, movido pela fé que ardia em meu peito, pedi confiante como o Pobrezinho de Assis pediu: “Ó Senhor, iluminai as trevas do meu e do coração de toda a humanidade”.
Após este sincero pedido, coloquei-me em silêncio. No silêncio, refleti quais seriam as trevas a serem retiradas do meu coração e do coração da humanidade. Intuí que são tantas trevas que podemos estar vivendo nestes tempos difíceis. As trevas da ansiedade, da insegurança, da desconfiança da voz de Deus, do egoísmo, da indiferença, do erro, da mentira, da injustiça, do medo, do ódio, da inveja, do ciúme, por exemplo, demostram um pouco desta realidade. Pedi a Deus uma graça especial, assim como sempre fez o Seráfico Pai São Francisco de Assis, pedi com grande humildade a sua Luz!
Precisamos da Luz divina, para enxergarmos a vida, as pessoas e o mundo com os olhos de Deus. Já estamos saturados de ouvir tantas notícias ruins. O mal parece não ter fim e a injustiça também. Precisamos sempre caminhar na Luz de Deus, que é o Nosso Senhor Jesus Cristo. A Sagrada Escritura nos ensina que “Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam denunciadas. Mas quem age conforme a verdade aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações são realizadas em Deus”.2
Nós queremos agir conforme a verdade e sempre buscando a Luz divina. Jamais podemos ter medo de nos aproximarmos da Luz. A Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo revelará a verdade e extinguirá as trevas do nosso coração franciscano. Por isso, creio que, iluminados, seremos capazes de iluminar, acendendo o amor de Deus no coração de toda a humanidade. Agindo assim, poderemos também fazer a esperança aumentar cada vez mais, na certeza da construção de um mundo mais justo, humano e fraterno. Construir um mundo novo, onde reina a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo em todos os corações.
E a esperança, parece-me ser urgente e necessária. Os homens e mulheres deste tempo estão carentes de certezas, parecem ter perdido a firmeza das antigas verdades eternas, rocha firme, onde se alicerçava a esperança cristã. As trevas, a meu ver, fecharam os nossos olhos para o sagrado, para o amor verdadeiro, para a dor do semelhante e para tudo que realmente importa e agrada ao Coração de Deus.
Deveríamos aprender a colocar nossa vida, nossa vocação franciscana, nossos anseios e o mundo em que vivemos nas mãos do Senhor, nosso Deus. Com o nosso coração franciscano iluminado pela fé verdadeira, cheio de esperança firme e do amor perfeito, conseguiremos cumprir na perfeita alegria a santíssima
vontade de Deus, assim como a cumpriu nosso Seráfico Pai São Francisco de Assis.
Para isto, não podemos ter medo de apresentar a Nosso Senhor Jesus Cristo a nossa prece especial e perseverante, pedindo-Lhe que arranque de nosso coração franciscano e o do coração de toda a humanidade as trevas, sejam elas quais forem.
Uma coisa é certa: nos embates e pelejas da vida, é necessário cuidar do nosso coração franciscano, colocando-o sempre no Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo. Somente na sua Luz nós veremos a Luz e compreenderemos realmente as motivações e os desejos mais profundos, que devem inspirar nossas ações e reações. São Paulo nos lembra, em sua Carta aos Efésios: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor: comportai-vos como verdadeiras luzes. Ora, o fruto da luz é bondade, justiça e verdade. Procurai o que é agradável ao Senhor, e não tenhais cumplicidade nas obras infrutíferas das trevas; pelo contrário, condenai-as abertamente. Porque as coisas que tais homens fazem ocultamente é vergonhoso até falar delas. Mas tudo isto, ao ser reprovado, torna-se manifesto pela luz. E tudo o que se manifesta deste modo torna-se luz. Por isto (a Escritura) diz: ‘Desperta, tu que dormes! Levanta-te dentre os mortos e Cristo te iluminará’ (Is 26,19; 60,1)”3. Queiramos que o nosso coração franciscano seja manifestado pela presença da Luz. Que nós saibamos sempre manifestar a Luz com nossas palavras, nossas atitudes e o nosso testemunho de vida cristã e franciscana. Devemos ser uma Luz capaz de sempre iluminar. Viver para iluminar. Talvez, isso também faça parte de nossa vocação franciscana e de nossa missão.
O Nosso Senhor Jesus Cristo é a Luz que nunca se apaga. É uma lâmpada que indica a direção do Céu e aponta nas direções onde o verdadeiro amor precisa chegar com urgência. A sua Palavra tem o poder de sempre iluminar nossa vida, nosso coração franciscano, nossa vocação e nossa missão: “Tua palavra é lâmpada para os meus pés, e luz para o meu caminho”4.
Desejo que a meditação e prática da Palavra de Deus despertem-nos para o uso de palavras benditas e acertadas, para a edificação de todas as pessoas que encontrarmos pelo caminho da vida. Lembro-me de um sábio conselho de Santa Tereza de Calcutá que diz assim: “Todas as nossas palavras serão inúteis se não brotarem do fundo do coração. As palavras que não dão luz aumentam a escuridão”5. Que nossas palavras sejam capazes de acender, no coração da humanidade, a Luz do verdadeiro amor, sejam capazes de levar sempre a esperança, a paz e o bem.
Com nosso Seráfico Pai São Francisco de Assis, levemos a Luz, que é o Nosso Senhor Jesus Cristo, onde as trevas insistirem em permanecer. O próprio Senhor Jesus Cristo nos revela que Ele é que é a LUZ, e quem andar com Ele jamais ficará nas trevas, jamais andará no caminho das trevas e jamais será trevas na
vida de alguém. Ele mesmo nos confirma esta verdade: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue, não andará nas trevas, mas terá a luz da vida”6. Que a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo ilumine a cada momento o nosso coração franciscano e, através dele, ilumine o coração de toda a humanidade.
Desejo que minhas humildes palavras, talvez, lhes sirvam para um bom momento de reflexão. Se assim for,
Boa reflexão, então!
Convento São Francisco, Campo Grande, MS, 12 de maio de 2020.