Missão Franciscana do MT e MS

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Mensagem do Custódio › 25/04/2022

Palavras de um coração Franciscano

Paciência

Frei Rogério Viterbo de Sousa, OFM

Estes dias, em mais uma das minhas longas viagens de trabalho fraterno, liguei o rádio do carro para ouvir música. Começou então, a tocar a música de composição do Lenine, chamada “Paciência”. Música da qual, por sinal, gosto muito, e um trecho da letra me fez refletir. A reflexão durou o resto do tempo da viagem, que foram mais de quatro horas. O trecho, motivo da minha reflexão, dizia assim: “Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma, até quando o corpo pede um pouco mais de alma, a vida não para”. A vida não para mesmo, bem sei.

Num átimo, veio à minha mente o pensamento sobre a paciência. Ainda mais nestes dias, onde tudo está mais do que acelerado, sequer esta vida agitada nos permite ter a paciência e a calma necessárias para vivê-la com equilíbrio e paz. Estamos vivendo no tempo do imediatismo, onde vivemos no desespero da pressa desmedida. Por vezes, tomamos decisões erradas e agimos de forma precipitada. Tudo porque não pensamos direito e nem o suficiente. Está faltando paciência e sobrando impaciência.

Acredito que a vida seria bem melhor e muito menos complexa de ser vivida, se a gente aprendesse a viver e conviver com um pouco mais de paciência. O doloroso é perceber que nem sempre é assim que conseguimos viver e conviver. Se a paciência pode proporcionar grandes benefícios, a impaciência gera uma série de problemas. A falta de paciência sempre nos levará a grandes prejuízos; além de ser uma grande causa para o surgimento de muitas discórdias, demonstrações de ira, discussões desnecessárias e dissensões.

Na definição dos dicionários de nossa Língua Portuguesa, paciência é “Uma virtude que consiste em suportar males, dissabores e incômodos sem revolta ou queixa, tolerância, qualidade de quem espera com calma e serenidade o que tarda, perseverança em realizar ou continuar um trabalho, apesar das dificuldades.” Como seria bom se soubéssemos colocar essa definição em prática, constantemente!

Hoje, o motivo principal pelo qual muita coisa nos tira a nossa paz é a ilusão de que podemos controlar tudo. Outra ilusão é pensar e criar uma falsa expectativa de que podemos viver sem contratempos, sem dificuldades, de que nada sairá errado e ninguém nos incomodará. Grande ilusão nossa!

Não podemos esquecer ou fingir que não sabemos o quanto a paciência melhora a nossa capacidade de aceitar e tolerar as situações difíceis desta nossa vida. Há momentos nela em que a paciência poderá ajudar-nos muito a manter o controle da situação. A paciência é fundamental para manter uma vida saudável. Ela nos ajuda a transformar as situações e a superar todos os obstáculos. Ela é o remédio que precisamos para acabar com o estresse provocado por este nosso estilo de vida tão acelerado. Ela é a força que nos fará manter a calma diante das decepções, adversidades ou angústias.

Algumas pessoas são mais pacientes que outras. Mas todos nós podemos trabalhar para melhorar a nossa capacidade de viver e conviver com mais paciência. Às vezes, descobrimos em nós uma capacidade assustadora de sentir angústia e raiva, pressa e inquietações, nos tornamos frios, em outros momentos ficamos furiosos, saímos batendo portas. Gritamos e dizemos coisas que machucam nossos semelhantes. Quanta coisa triste fazemos pela falta de paciência! Digo: triste mesmo e, às vezes, sem conserto!

Saber viver e conviver com paciência na liturgia diária de nossa existência pode livrar-nos de tantos conflitos desnecessários e desgastantes. Mesmo que algumas situações nos desagradem, nós conseguiremos lidar com elas, se usarmos de total paciência.

A paciência sempre nos ajudará a superar situações difíceis e a tomar melhores decisões, sem ficarmos irritados e demasiadamente ansiosos. É mister que urgentemente aprendamos a tornar a vida mais leve e mais feliz. Sem a paciência, isso será uma tarefa impossível de ser realizada.

Recordo-me o que disse Santa Teresa de Ávila, em seus escritos, nos animando nessa missão de sermos capazes de paciência: “Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa. Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem a Deus tem, nada lhe falta; só Deus basta”.

Desta maneira, tenhamos fé e lembremo-nos que “Um espírito paciente vale mais que um espírito orgulhoso. Não cedas prontamente ao espírito de irritação; é no coração dos insensatos que reside a irritação” (Ecles 7,8b-9)

Que o Amor que existe em nosso coração nos faça compreender a paciência como ensinou Santo Tomás de Aquino, que disse: “Manifestum est quod patientia a caritate causatur

– “é evidente que a paciência é causada pelo amor” (Suma Teológica, II-II, q. 136, a. 3, c.).

Que Nossa Senhora das Alegrias nos ensine a virtude da paciência! Ela, que sempre soube esperar o desígnio de Deus se cumprir, sem se afobar, sem gritar, sem reclamar. Ela, que nos ensinou que a paciência é amiga do silêncio e da fé.

Desejo que minhas humildes palavras, talvez, lhes sirvam para um bom momento de reflexão. Se assim for,

Boa reflexão, então!

 

Convento São Francisco, Campo Grande, MS, 10 de março de 2022.

 

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