Frei Rogério Viterbo de Sousa, OFM
É engraçado, muito engraçado. Olhando a vida e as pessoas através das redes sociais, encontramos somente pessoas felizes, sorrindo em lugares deslumbrantes. Nestes cenários da vida vivida quase sempre de aparências, como nos mostram as redes sociais, vemos a felicidade estampada nos rostos das pessoas que posam para suas fotos e selfies. Mas, como explicar a tristeza, a depressão crescendo vorazmente e ferindo tantas pessoas a cada dia, no mundo em que vivemos? Se não bastasse isso, o número de suicídios também aumentando com grande celeridade. O que sei é que a felicidade não pode ser medida pelas telas de computadores, smartphones e celulares. Não pode mesmo!
Hoje muitas pessoas vivem uma dependência digital que as subjuga. É como o vício em droga. Pessoas totalmente dependentes de redes sociais e de internet. Todas as plataformas, todas as exposições, postagens, o nome que for, têm quase sempre como objetivos, com raríssimas exceções, mentir, enganar os outros, passar uma mensagem dolosa sobre falsa felicidade e riquezas que não existem.
A impressão que tenho, muitas vezes, é que algumas pessoas que têm colossal necessidade de ficar postando tudo, como, por exemplo, postar imagens de restaurantes, de roupas recém-compradas, de sapatos, de carros, de lugares visitados, de festas frequentadas, seja o que for, estão se exibindo para esconder o vazio gritante existente em suas vidas. Não quero generalizar, mas é o que eu penso.
Afinal, quem nunca postou uma foto de um momento feliz, ou então de um lugar bonito em que visitou? Quem? Afinal de contas, semelha ser normal tal atitude de tudo postar, postar e postar, mas não é. Miseravelmente, parece que esta postura tem se tornado um costume normal, mais normal do que o que é, de fato, real. Existe uma distorção da realidade e a maioria das pessoas nem sequer consegue dar conta disso. Esta distorção da realidade nos tem feito viver num mundo feito de aparências, superficialidades, ilusões e fantasias, onde todas as pessoas parecem estar de bem com a vida. Mas sabemos, de verdade, que isto tudo é uma sorrateira mentira!
Para mim, que não sou contra o progresso e nem contra as novas tecnologias, as redes socias são como um “mundo mágico”, o lugar propício para a falsidade, narcisismo, ostentação e muita coisa ruim. Em algum momento, se fará necessário pensar nisso com maior seriedade. Se toda esta realidade de dependência das redes sociais se justifica, tendo como pretexto a felicidade, digo que para mim a felicidade não é isso e nunca será.
A felicidade está em pequenas coisas e atitudes que podem ser realizadas com grande amor no dia a dia. Ela não pode ser reduzida à satisfação momentânea por alguma coisa qualquer. Ela não vem pronta lá do céu, mas é luta que se trava cada dia aqui na terra. Dizem que a felicidade se fundamenta nas atitudes de amor incondicional, que devotamos às pessoas e eu acredito que sim.
Não podemos pensar que a nossa vida seja pior do que a dos amigos virtuais que fazem um monte de postagens camuflando uma realidade que não lhes pertence. Como seria bom se, ao invés de passar horas e horas nas redes sociais, usássemos este tempo para ler um bom livro, para fazer uma caminhada no parque, para realizar trabalhos voluntários, para conviver com amigos reais e não virtuais! Certamente seria muito mais proveitoso e feliz o nosso tempo!
Lembremo-nos que a maior parte das pessoas mostram nas redes sociais o que elas gostariam de ser, e não o que elas realmente sentem ou são, de fato. Infelizmente é bem assim mesmo. Não dá para ficar editando uma vida feliz através das redes sociais. Parece-me que as pessoas que se acostumaram a agir desta maneira, simulando uma vida feliz, na verdade estão a dizer em cada postagem que a sua vida real é muito chata, vazia e por muitas vezes sem um pouquinho de verdadeira felicidade.
Bom, isso é um pouco de minhas elucubrações. Sei que não sou dono da verdade e aqui neste humilde texto não discorro de todas as pessoas. Mas está na hora de pensarmos que, por de trás de uma vida tão exibida no mundo virtual através das redes sociais, existe em cada um de nós um mundo de vida real que precisa urgentemente de cuidado real. Creio que, cuidando de nossas realidades existenciais e vivendo sem representações no cenário complexo da existência humana, poderemos ser, de verdade, quem somos e o que poderemos ser de melhor.
Apesar dos dias difíceis que o mundo e nós atravessamos, precisamos continuar a aventura da nossa existência. Talvez descubramos que a felicidade mora ao lado de nosso coração e pede para morar singelamente nele. Ser feliz fora das redes sociais é possível e, por favor, acredite de verdade nisto!
Desejo que minhas humildes palavras, talvez, lhes sirvam para um bom momento de reflexão. Se assim for,
Boa reflexão, então!
Frei Rogério Viterbo de Sousa, OFM
Convento São Francisco, Campo Grande, MS, 28 de março de 2022.