Missão Franciscana do MT e MS

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Mensagem do Custódio › 17/04/2021

Palavras do coração franciscano – A inveja

Frei Rogério Viterbo de Sousa, OFM

Todos nós sabemos do tamanho do mal causado pela inveja. A inveja (invidia em latim) é não ver, não querer ver o bem do outro. Aprendemos que ela é um pecado capital e que faz muito mal tanto para a pessoa que sente quanto para a pessoa que é alvo dela. Na verdade, a inveja é um sentimento negativo, que poucos admitem sentir.

Diz o Catecismo da Igreja Católica: “A inveja é um vício capital. Designa a tristeza sentida diante do bem do outro e do desejo imoderado de sua apropriação, mesmo indevida. Quando deseja um mal grave ao próximo, é um pecado mortal: “Santo Agostinho via na inveja o pecado diabólico por excelência. Da inveja nascem o ódio, a maledicência, a calúnia, a alegria causada pela desgraça do próximo e o desprazer causado pela sua prosperidade.” (São Gregório Magno)”1.

Não é difícil entender que a inveja faz surgir, no coração de quem a sente, desejos contrários ao amor. “O amor não é invejoso”2. A pessoa invejosa ignora tudo o que é e possui para cobiçar o que é do próximo. A inveja é uma forma velada de fracasso escondido dentro do coração e da alma de quem a sente.

Por isso, penso que tal sentimento nada mais é do que assumir o próprio fracasso. Pois, no momento que surge a inveja, a pessoa se entristece pelo dom, pelo bem que a outra pessoa realiza ou conquista. A pessoa cheia de inveja sempre enxerga na vida da outra pessoa aquilo que gostaria de ter ou conquistar ou realizar. Ela enxerga em determinada pessoa a personificação do seu próprio fracasso. Desta maneira, não se culpa pelo seu fracasso, mas sim pelo sucesso que aquela pessoa conseguiu.

A pessoa tomada pela inveja se torna incapaz de se alegrar com os que se alegram e de chorar com os que choram. Não suporta ver as outras pessoas serem bem- sucedidas onde ela tem fracassado. Sente mal-estar diante dos elogios que a pessoa que é alvo de sua inveja recebe.

A inveja é realmente um sentimento maligno, é um desejo descontrolado de querer tudo e de querer o que pertence às outras pessoas. O Santo Padre, o Papa Francisco, nos ensina que “A inveja é um caruncho que leva a destruir, a falar mal, a aniquilar o outro”3. São Tiago nos lembra que “Quem é sábio e tem entendimento entre vocês? Que o demonstre por seu bom procedimento, mediante obras praticadas com a humildade que provém da sabedoria. Contudo, se vocês abrigam no coração inveja amarga e ambição egoísta, não se gloriem disso nem neguem a verdade. Esse tipo de “sabedoria” não vem dos céus, mas é terrena; não é espiritual, mas é demoníaca. Pois onde há inveja e ambição egoísta, aí há confusão e toda espécie de males”4. Infelizmente existem tantas pessoas que escolhem agir assim, pois estão dominadas pela maldita inveja.

Não podemos consentir com a inveja habitando em nosso coração. Precisamos conservar nele a capacidade de nos alegrarmos com os dons, com o bem realizado ou conquistado pelos nossos semelhantes. O Seráfico Pai São Francisco de Assis nos diz: “Portanto, todo o que tiver inveja a seu irmão pelo bem que o Senhor diz e faz por meio dele, comete pecado de blasfémia, pois tem inveja ao mesmo Altíssimo (cf. Mt 20, 15), que é quem diz tudo o que é bom”5. São João Crisóstomo nos diz também: “Quereríeis ver Deus glorificado por vós? Pois bem, alegrai-vos com os progressos de vosso irmão e imediatamente Deus será glorificado por vós. Deus será louvado, dirão, porque seu servo soube vencer a inveja, colocando sua alegria no mérito dos outros”.

Contra o mal provocado pela inveja, precisamos aprender radicalmente a cultivar a gratidão, começando por apreciar os dons e as qualidades dos outros com alegria. Devemos dizer ao Senhor: “Obrigado, Senhor, porque concedestes isto àquela pessoa!” Num coração repleto de gratidão, não existe o mínimo espaço para a inveja e nada de ruim. É um coração capaz de ser constantemente bom e feliz!

Precisamos muito de cuidar do nosso coração, para que este terrível sentimento de inveja não o venha estragar. Peçamos a Nosso Senhor Jesus Cristo que nos purifique o coração, onde Ele quer habitar. Tratemos de viver o amor como Ele nos ensinou, para banir o sentimento de inveja da nossa vida. Vivamos na obediência a Deus com alegria de alma e de coração.

Precisamos sempre nos lembrar de que o verdadeiro amor aprecia os sucessos, as conquistas, os dons alheios e jamais os sente como uma ameaça. Agindo assim, conseguiremos nos libertar do sabor amargo da inveja, que enxovalha, destrói e mata a pessoa invejada.

Para tal libertação, devemos fazer uso da arma capaz de combater a inveja, que é a oração, a fim de que a inveja nunca venha fazer parte do nosso coração e da nossa vida. Não queremos jamais ser invejosos!

Por isso, peçamos a Nosso Senhor Jesus Cristo que nos dê um coração capaz de gratidão, um coração pobre, puro, humilde e, simplesmente, feliz. Peçamos a Ele que purifique o nosso coração da inveja e de todos os maus desejos.

Concluo dizendo, no tom da certeza, que o orgulhoso vive centrado em si mesmo, o invejoso centrado na vida dos outros, mas nós, que somos cristãos, vivemos, em todos os momentos, centrados em Deus.

Desejo que minhas humildes palavras, talvez, lhes sirvam para um bom momento de reflexão. Se assim for,

Boa reflexão, então!

Convento São Francisco, Campo Grande, MS, 09 de março de 2021.

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