Frei Rogério Viterbo de Sousa, OFM
“Disse-vos estas coisas, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa” (Jo 15,11).
Neste tempo marcado por tantas dificuldades em que vivemos, não é difícil notar a tristeza estampada nos rostos de tanta gente. Fico pensando num jeito de mudar este enfadonho cenário de testas franzidas e sorrisos aprisionados pela dor. Dizem que só o poeta vê o invisível, ou seja, a essência dos acontecimentos, da natureza, das pessoas e da alegria. Que bom seria se soubéssemos poetizar a vida através de versos e rimas de felicidade! Franciscanamente, eu ouso fazer da vida uma poesia, feita de alegrias e de responsável compromisso de fazer a todos bem felizes.
Eu acredito que, à medida que abrimos as portas do nosso coração para Deus entrar e nele permanecer, vamos experimentando uma irreprimível alegria que nos fará sair ao encontro dos nossos irmãos e irmãs. Bem certo que também aprenderemos a fazer da alegria um jeito de amar e de servir.
Neste serviço à alegria, descobrimos um dos modos mais delicados de Deus cuidar de todos nós. Seja, então, este o verdadeiro compromisso nestes nossos enfadonhos dias: levar a alegria aos nossos irmãos e irmãs com um sorriso, com um gesto de bondade, com uma pequena e fraterna ajuda, com o perdão ilimitado e com a caridade! Não podemos nos esquecer que, quando partilhamos alegria, ela sempre voltará multiplicada para nós.
Em particular, procuremos transmitir a irreprimível alegria, a mais profunda e verdadeira, que é a de ter conhecido a Deus e ao seu infinito amor por nós, em nosso Senhor Jesus Cristo! Esta é uma irreprimível alegria de todo desconhecida para aqueles que apostam em nada fazer, sem nada acabar, em nada se comprometer. É desconhecida para aqueles que ficam de braços cruzados e fechados no egoísmo, sem jamais abandonar a sua zona de conforto.
Não podemos nos esquecer de que a nossa frágil humanidade está chamada a libertar-se de todo tipo de egoísmos, especialmente os ocultos, que cultivamos nos recônditos de nossa alma e nos tornam pouco a pouco em pessoas tristes e amargas. Precisamos também nos libertar de nossas imperfeições sutis, de nossas ilusões, de nossas indiferenças, para assim poder crescer até à medida de nosso Senhor Jesus Cristo e termos um coração semelhante ao seu Sagrado Coração.
Sendo assim, devemos constantemente examinar a nossa consciência e as nossas atitudes, sob a luz de Deus, sobre a prática do amor incondicional, da caridade, para que a alegria do Senhor seja a nossa força e assim a nossa alegria seja irreprimível, completa e transbordante.
Atualmente, temos visto muitas pessoas com dificuldade em se alegrar. As circunstâncias têm roubado a alegria das pessoas. É certo que muitas incertezas nos cercam, o medo vem aterrorizando os nossos corações e se torna muito difícil manter a alegria. Daí surge a tristeza, que insiste em permanecer.
Sabemos que, concretamente, a tristeza nasce não somente do medo, mas também do egoísmo, de pensarmos em nós mesmos, esquecendo os outros. Quem anda excessivamente preocupado consigo próprio dificilmente encontrará a alegria da abertura para Deus e para os outros. Em contrapartida, com o cumprimento alegre e sem medo dos nossos deveres, poderemos fazer a alegria se espalhar à nossa volta, e esta alegria, certamente, levará a Deus. “Não entregues tua alma à tristeza, não atormentes a ti mesmo em teus pensamentos (…) e afasta a tristeza para longe de ti, pois a tristeza matou a muitos, e não há nela utilidade alguma” (Ecl 30,22-25).
Bem sabemos que a grande força que temos para transformar, para pregar o Santo Evangelho, para ir em frente como testemunhas autênticas da vida é a alegria do Senhor que é fruto do Espírito Santo, e hoje e sempre lhe peçamos que nos conceda a graça de sermos presença viva de sua irreprimível alegria na vida do mundo e de todos os nossos irmãos e irmãs.
Que Nossa Senhora das Alegrias nos ensine a espalhar o dom da nossa alegria franciscana em todos os corações! Sejamos instrumentos de paz e, como o Seráfico Pai São Francisco de Assis, não nos cansemos jamais de levar a irreprimível alegria onde a tristeza teimar em existir!
Concluo elevando, do meu coração franciscano, esta singela prece, com fé maior:
Obrigado, Nosso Senhor Jesus Cristo, por seres o fundamento sólido de nossa irreprimível alegria franciscana! Ajuda-nos a conhecer-Te cada vez melhor! Ajuda-nos a identificar-nos cada vez mais com a tua santíssima vontade! Ajuda-nos a viver a nossa vocação franciscana, com fidelidade e com perseverança no serviço e na missão! Ajuda-nos a ser cada vez mais presença de irreprimível alegria neste nosso mundo! Amém!
Desejo que minhas humildes palavras, talvez, lhes sirvam para um bom momento de reflexão. Se assim for,
Boa reflexão, então!
Convento São Francisco, Campo Grande, MS, 25 de julho de 2021.