Missão Franciscana do MT e MS

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Mensagem do Custódio › 15/05/2021

Palavras do coração franciscano – Amar seraficamente!

Frei Rogério Viterbo de Sousa, OFM

 Outro dia, alguém me perguntou sobre o porquê de nós, franciscanos, chamarmos São Francisco de Assis de Seráfico. Respondendo humildemente a pergunta, disse que, durante muito tempo, fui meditando sobre a maneira intensa e profunda do Seráfico Pai São Francisco amar Nosso Senhor Jesus Cristo, pobre e crucificado. Porque tanto amou, configurou toda a sua vida a Ele. Esta meditação foi trazendo verdades para dentro do meu coração franciscano.

Juntamente com os aprendizados destas verdades, aprendi também que, na hierarquia angélica, os Serafins são os anjos que estão mais próximos de Deus, que contemplam o seu rosto, que O adoram diretamente e que são ardentes de amor. Creio que o jeito de amar do Seráfico Pai São Francisco de Assis foi comparado ao jeito dos Serafins amarem a Deus. Por isso, merecidamente recebeu o título de Seráfico. Ele amou seraficamente a Nosso Senhor Jesus Cristo e, porque O amou, viveu profundamente a altíssima pobreza, a humildade e o amor. Aprendeu verdadeiramente amar os pobres com amor incondicional. Através do seu jeito de amar verdadeiramente, sua santidade foi crescendo e crescendo a cada dia.

Cresceu tanto sua santidade, que ele foi considerado um “alter Christus”, que mereceu estar no Céu, ocupando o trono de um Anjo da mais alta estirpe celeste: um Serafim. Tudo isso porque, através do seu amor seráfico e de sua preciosa humidade, se uniu verdadeiramente a Nosso Senhor Jesus Cristo, pobre, humilde e casto. Por tudo isso, é que foi chamado de Seráfico. Disse, humildemente, que foi desta maneira que aprendi. Esta minha resposta pode até parecer poética, mas é assim que acredito ser.

Após dar esta resposta, coloquei-me a pensar que nós, franciscanos, também deveríamos, a exemplo do Seráfico Pai São Francisco de Assis, amar seraficamente a nosso Senhor Jesus Cristo. Amando-O verdadeiramente, haveríamos de amar melhor os nossos semelhantes. E por que nem sempre conseguimos amar a Deus e amar nosso próximo sem distinção e na gratuidade de nosso coração franciscano? Pergunta que toca profundamente a minha consciência.

Sabemos que o amor ao próximo é o ensinamento mais forte vindo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Pois, por meio dele, é possível colocar em prática todos os outros ensinamentos. Afinal, quando amamos o próximo, fazemos ao outro tudo o que gostaríamos que fizessem conosco, como, por exemplo: respeitar, acolher, ajudar e ter empatia. Por causa do amor, fazemos sempre e somente o bem e jamais o contrário.

Deus é Pai de todos nós. Não podemos e nem temos o direito de classificar os nossos irmãos e irmãs como bons e maus, com base em critérios ideológicos, religiosos, étnicos ou morais: “Deus não faz acepção de pessoas!”1. Não é possível amar a Deus e não se propor a caminhar no caminho que leva em direção dos seus filhos e filhas, especialmente daqueles que sofrem e estão em situação de exclusão, abandono e miséria. São João Crisóstomo afirmava: “De que serviria, afinal, adornar a mesa de Cristo com vasos de ouro, se ele morre de fome na pessoa do pobre? Primeiro dá de comer a quem tem fome, e depois ornamenta a tua mesa com o que sobra. Queres oferecer-lhe um cálice de ouro e não és capaz de lhe dar um copo de água? De que serviria cobrir o seu altar com toalhas bordadas a ouro, se lhe recusas a roupa de que precisa para se vestir?”2. Nestas suas palavras, fica claro que o amor a Deus deve tornar-se visível através de atitudes, quando cada um torna-se próximo dos irmãos e das irmãs, de maneira especial, daqueles que sofrem e mais precisam.

Guardemos sempre no nosso coração franciscano a Palavra que Nosso Senhor Jesus Cristo nos dirige e coloquemo-la em prática com diligência e com tenacidade, para alcançarmos a perfeição, a santidade que nos faz amar sem distinção: “Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”3.

Nosso Senhor Jesus Cristo resumiu toda a lei moral e espiritual em dois grandes mandamentos que tratam do amor; um amor que, primeiro, deve ser devotado a Deus, e, em seguida, a todas as pessoas. Mas não nos esqueçamos que Nosso Senhor Jesus Cristo também disse que o segundo mandamento é semelhante ao primeiro. Então a explicação aqui é muito clara: se alguém ama a Deus verdadeiramente, então naturalmente também deverá amar verdadeiramente o próximo, como ensinou Nosso Senhor Jesus Cristo.

O amor verdadeiro exige uma obediência a Deus. Se amamos a Deus, experimentamos o amor d’Ele dentro do nosso coração e, desta maneira, na gratuidade, podemos expressar, franciscanamente, este amor a todas as pessoas.

Que possamos refletir sempre sobre o amor verdadeiro e pedir que Nosso Senhor Jesus Cristo nos perdoe e nos ensine a amar seraficamente todas as pessoas, na intensidade com que Ele nos ama. Que o Seráfico Pai São Francisco de Assis nos ajude mais amar do que sermos amados, pois assim certamente teremos coragem para praticar o amor sempre verdadeiro, quer dizer, teremos coragem de viver para amar e, quem sabe, amar com um amor seráfico.

Desejo que minhas humildes palavras, talvez, lhes sirvam para um bom momento de reflexão. Se assim for,

Boa reflexão, então!

Convento São Francisco, Campo Grande, MS, 07 de novembro de 2020.

 


(1 Romanos 2, 11; 2 Homilias sobre Mateus 50,3-4; 3 Jo 13, 34-35)

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