Missão Franciscana do MT e MS

Rua 14 de Julho, 4213 - Bairro São Francisco - 79010-470 - Campo Grande, MS

Mensagem do Custódio › 20/12/2020

Palavras do coração franciscano – É tempo de “franciscanar”

Quais são os ensinamentos de São Francisco de Assis?

É tempo de “franciscanar”

Frei Rogério Viterbo de Sousa, OFM

 Vivemos tempos difíceis e repletos de desafios, que nos interpelam fortemente a cada momento. Somos interpelados, quanto à nossa forma de vida franciscana e quanto à nossa disposição em vivê-la com amor e fidelidade para com Deus, para com a Igreja, para com todas as pessoas e para com todas as criaturas. No tempo de São Francisco, também ele se sentiu desafiado e inquieto frente aos desafios próprios do século XIII. Vale lembrar que ele, depois do encontro com Cristo em São Damião, encontrou força e graças para viver com radicalidade e toda fidelidade o Evangelho de nosso Senhor Jesus   Cristo.   “Altíssimo   e   glorioso   Deus,   iluminai   as   trevas   do   meu coração”1.   Descobriu,   nesta   sua   opção   fundamental,   valores   essenciais   que transformaram a sua vida, o seu tempo, a Igreja e uma geração de pessoas.

Dentre  estes  valores,  destaco  a  oração,  a  pobreza  e  a  fraternidade.  Realidades irrenunciáveis,  que  viveu  e  procurava  testemunhar  na  minoridade  de  sua  vida.  São Francisco  de  Assis  nos  ensina  que  “é,  pois,  uma  grande  vergonha  para  nós, outros  servos  de  Deus,  terem  os  santos  praticado  tais  obras,  e  nós querermos receber honra e glória somente por contar e pregar o que eles fizeram”2.

Diante do exposto, para não pecar contra esta admoestação, não quero apenas falar das virtudes da santidade de São Francisco de Assis, mas humildemente vivê-las para dar bom testemunho como frade menor, que sou por graça de Deus. E com este anseio de primeiro viver para depois repartir minha limitada e imperfeita visão, quero, sem grandes pretensões, apenas refletir.

Vida de Oração

A oração pertencia tão plenamente à natureza do santo, que se poderia dizer: a oração era sua essência. Celano se atreve a dizer: “Quando Francisco orava todo o seu ser era oração”3. A busca da união com Deus, creio ser este o primeiro trabalho nosso de frades menores. O tempo de oração pessoal e fraterna é de suma importância para alimentar nossa vida. O nosso dia a dia é pautado por momentos dedicados à oração, ao trabalho, às refeições feitas juntos, à recreação e ao repouso. O ritmo e o trabalho do nosso dia a dia deveriam nos ajudar a viver num perfeito equilíbrio de cada atividade, no tempo de que dispomos. Só que nem sempre isso acontece. Frequentemente somos tentados a faltar tanto na oração pessoal quanto na comunitária.

Com facilidade, a atividade pastoral, com todos os seus compromissos, a convivência com amigos e o uso dos meios de comunicação tornam-se motivos de dispensar-nos da oração comunitária. E isto eu falo por mim mesmo. Infelizmente, vejo que este comportamento tem aumentado em nossas fraternidades. Sou convicto de que, se  não rezamos bem, a consciência da nossa pertença ao Senhor, na vida consagrada franciscana, se torna fraca. Isto é um grande perigo para nossa vocação franciscana e cristã.

Penso que o desafio para nós, frades, é nos tornarmos homens feitos oração, a exemplo de São Francisco de Assis, como diz Tomás de Celano: “Transformado não só em orante mas na própria oração”4. Penso que a celebração da Eucaristia, a recitação da Liturgia das Horas, a “Lectio Divina”, a oração pessoal e comunitária sejam para nós o nosso alimento. Até a nossa “solidão” pode ser acompanhada por Deus, nos momentos de adoração diante do sacrário. É verdade, bem sei, que não é apenas rezando que se honra e que se serve a Deus.

Mas é verdade também que, sem oração, não se pode viver com santidade nossa vocação franciscana. A oração para nós, frades, deve ser um respiro de amor, que se tornará sempre mais puro e autêntico se tornado uma fidelidade diária, cumprida com sinceridade. Reflitamos sobre a importância da oração em nossa vida de frades menores e o tempo e a qualidade dela no nosso viver.

Sempre é tempo, eu digo para mim mesmo, de “franciscanar” pelos caminhos da oração, rumo ao coração de Deus e da humanidade.

Vida de pobreza

“Conheço Jesus pobre e crucificado e isso me basta”, dizia São Francisco de Assis. O nosso amado Pai São Francisco de Assis fez da pobreza um dos fundamentos de nossa Ordem e o amor à pobreza se manifestava na sua vida, na maneira de se vestir, no uso dos poucos bens materiais e nos seus atos. Apesar de tudo, sempre era visto alegre e contente.

A pobreza de São Francisco de Assis era uma pobreza voluntária, aceita e vivida por ele como caminho de liberdade frente ao dinheiro e à tentação do acúmulo dos bens

materiais. Sendo assim, podemos perceber que a falta de pobreza voluntária gerará um grande sofrimento na nossa vida; ela poderá fazer muito mal para nossa vocação franciscana. Devemos ser pobres, pois somente valemos o que somos diante dos olhos de Deus, e nada mais que isso. Desta maneira, aprendemos que a verdadeira pobreza não pode estar nos extremos. A pobreza do corpo é apenas um instrumento.

A verdadeira pobreza está na atitude interior, que consiste em receber de Deus, dia a dia, o que ele concede e até mesmo o inesperado. A Senhora Pobreza proporciona-nos uma confiança total em Deus. E é a confiança total em Deus que enche nossa vida da perfeita alegria. Sabemos que somente São Francisco de Assis viveu radicalmente a pobreza em espírito e a pobreza material. Mas isso não nos impede procurarmos ser capazes de vivê-la. Será que não está na hora de nós, frades, sermos mais pobres, não diante de nossos próprios conceitos e parâmetros, mas diante da pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo? De viver com sobriedade e simplicidade? De ser livres diante de uma sociedade que põe no consumismo uma maneira de ser e viver para ser feliz? De ser uma presença constante junto aos pobres de nosso tempo? São perguntas que tocam no fundo do meu coração franciscano e mexem com meus pensamentos.

Todos nós sabemos que o nosso voto de pobreza pode ser um grande testemunho para o mundo consumista em que vivemos. Voltemos a viver simplicissimamente a nossa vida de pobreza.

Sempre é tempo, eu digo para mim mesmo, de “franciscanar” pelos caminhos da pobreza evangélica, rumo ao coração de Deus e dos pobres da humanidade.

Vida de Fraternidade

 “Quando se reuniam em algum lugar, ou quando se encontravam na estrada, reacendia-se o fogo do amor espiritual, espargindo suas sementes de amizade verdadeira sobre todo o amor. E como? Com castos abraços, com terno afeto, com ósculos santos, uma conversa amiga, sorrisos modestos, semblante alegre, olhar simples, ânimo suplicante, língua moderada, respostas afáveis, o mesmo desejo, pronto obséquio e disponibilidade incansável”5. Nossa vida franciscana está fundada naquela descoberta que realizou Francisco de Assis: a fraternidade. A fraternidade é o lugar primeiro do nosso doar-nos e nela também nos fazemos responsáveis pelos diferentes dons dos irmãos.

A nossa vocação de irmãos se realiza em consolidar e difundir o Bem. Sem amor verdadeiro, não existe fraternidade. Por isso, o nosso primeiro compromisso e vocação é nos tornarmos frades menores, segundo o estilo de Jesus, que não se apropriou de sua condição de Filho, mas se fez Irmão de todos sem excluir ninguém. O amor de São Francisco de Assis é demonstrado na fraternidade para com todas as pessoas e para com todas as criaturas. Ninguém como ele irmanou-se tanto com todo o universo: foi o irmão de todo irmão, irmão do sol, da lua, da água, das estrelas, das aves e dos animais. Foi simplesmente e sempre um Irmão Menor.

Nossa Ordem nos ensina a formar um frade para ser Irmão Menor, para que trabalhe como irmão menor, para que viva teimosamente, como irmão menor. A falta do amor fraterno nos impede de viver e testemunhar a utopia franciscana, sendo verdadeiramente Irmãos Menores. Acredito ser o nosso maior pecado a falta de amor fraterno. Isto demonstramos quando falta-nos a caridade e o respeito para com nossos confrades, seja no falar, no trato ou no agir. Seria bem melhor, se pudéssemos sempre nos alegrar com o bem de nossos confrades, com seus dons e com suas virtudes. Seria bom sermos sempre Irmãos! Quem não quer ser verdadeiramente irmão menor não pode ou não deveria ser frade menor, pois ser irmão menor é a nossa sublime vocação.

Sempre é tempo, eu digo para mim mesmo, de “franciscanar” pelos caminhos da fraternidade, rumo ao coração de Deus, dos confrades e de todas as criaturas.

Que o Seráfico Pai São Francisco de Assis nos ensine a ser bons franciscanos, no seguimento de nosso Senhor Jesus Cristo, sendo Frades Menores de oração, pobres e sempre fraternos! Que Santa Clara de Assis interceda a Deus por todos nós!

Desejo que minhas humildes palavras, talvez, lhes sirvam para um bom momento de reflexão. Se assim for,

Boa reflexão, então!

Convento São Francisco, Campo Grande, MS, 11 de agosto de 2020.

 

Deixe o seu comentário





* campos obrigatórios.

Cadastre-se e receba nossas novidades

X