Frei Rogério Viterbo de Sousa, OFM
“Eu sei que vocês estão procurando Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui. Ressuscitou, como havia dito!” (Mt 28,5-6)
Este momento difícil da história da humanidade que estamos enfrentando por causa da pandemia do novo coronavírus deve nos fazer compreender a importância da fé e de como vivê-la com equilíbrio e perseverança, através do dom de amar e de servir. Deve nos levar a repensar verdades fundamentais da vida e do amor. Não podemos fugir deste enfrentamento.
A Solenidade das Solenidades se aproxima! Estamos diante da Semana Maior da nossa fé católica. Este ano, de forma extraordinária, temos a suspensão da celebração comunitária da Santa Missa até ser superada a atual situação de emergência. Celebrar sem a presença física do povo é uma das medidas necessárias. Creio, firmemente, que este aparente “vazio” será preenchido pela presença do próprio Cristo ressuscitado a nos dizer: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20).
Ele está presente no meio de nós! Não somos sozinhos e nem estamos entregues à mercê desta situação. Ele nos convida a ter esperança infinita. Desta maneira, celebremos a Páscoa de Jesus! Estaremos rezando juntos, mesmo à distância, porque o amor de Cristo sempre nos uniu e nos reúne.
Nesta certeza, celebramos esta presença do Senhor, com a mesma novidade e dinamismo que os primeiros discípulos, na manhã da primeira Páscoa. Jesus Cristo ressuscitado vem nos dizer que o caminho que percorreu, de serviço e dom da vida, não é e não foi um fracasso. Este caminho de amor e doação cria novas realidades neste mundo e abre-se à construção de um mundo novo, que só Deus pode tornar possível. Mas Ele quer que façamos a nossa parte, que nos amemos e transformemos este mundo ferido, tornando-o mais justo, fraterno e cheio de paz. Jesus Cristo nos ensina, com o seu divino exemplo, que dar a vida deste modo não é perdê-la, mas semeá-la e alargá-la a novos horizontes, onde desaparecerão totalmente as injustiças, as maldades, os sofrimentos e a morte.
Na celebração da Páscoa a cada ano, somos convidados a um compromisso com a paz em vez da violência, da reconciliação e do perdão em vez do ódio e da vingança. Jesus, com sua
Ressurreição, nos garante que a morte, o mal e a violência deixam de ter poder sobre o ser humano que se doa, que se gasta a serviço de mais vida, de mais fraternidade, de mais paz e de tudo que é bom! Esta deve ser a nossa vocação! Isto é viver como pessoa ressuscitada pelo Perdão e pelo Amor de Deus!
São Francisco de Assis vivia a Páscoa numa atitude coerente e numa disposição muito distantes do caminho muitas vezes superficial com que acolhemos estes eventos tão intensos da vida cristã. Como Ele, somos convidados a passar da superficialidade e da indiferença à profundidade deste mistério pascal. Em nossa espiritualidade franciscana, aprendemos que o Amor precisa ser amado. Nós queremos fazer o Amor ser amado, hoje e sempre!
É bem por isso que buscamos viver nossa fé, deixando Deus ressuscitar em nosso coração o desejo de viver para amar e servir sempre, na gratuidade do amor verdadeiro. Sei, claramente, que cumprir a vontade de Deus, ser fiel à Lei de Cristo, viver coerentemente a nossa fé, pode parecer muito difícil. Por vezes, apresentam-se obstáculos que parecem insuperáveis. No entanto, não é assim. Deus vence sempre e nos ajuda a vencer! Jesus Cristo venceu a morte! Ele é a razão de ser de nossa esperança. Nós cremos e sempre iremos crer na vitória do amor sobre o ódio, da paz sobre a violência, do perdão sobre a vingança e da vida sobre a morte. O nosso louvor pascal deve ser manifestado com os lábios, com o coração e com a vida, acompanhado sempre da busca da paz, da justiça, do bem, do perdão e da reconciliação. Quem celebra a Páscoa de Jesus Cristo é chamado a uma nova vida, não podemos nos esquecer.
Deverasmente penso que uma boa forma de viver esta Nova Vida que a Páscoa de Jesus Cristo nos traz consiste em esforçar-nos por fazer os outros participantes da Vida de Jesus Cristo, cumprindo com primor, ternura e fidelidade o Mandamento Novo da Caridade, que o Senhor nos deu na véspera da sua Paixão: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13,35). Jesus Cristo ressuscitado repete agora a cada um de nós, acredito eu, dizendo-nos: “Amem-se de verdade uns aos outros, esforcem-se todos os dias por servir os outros, estejam atentos aos detalhes mais pequenos, para fazer a vida agradável aos que convivem com vocês e assim, pouco a pouco, faremos acontecer no mundo a Revolução do Amor”.
Convenço-me, a cada ano, que esta oportunidade de vivermos um momento tão significativo do ano litúrgico pode ser muito preciosa para voltarmos a redescobrir, na Palavra de Deus, neste dia da Páscoa, uma fé reta, uma esperança certa e uma caridade perfeita (cf. São Francisco, “Oração diante do Crucifixo”). “Páscoa é passar para aquilo que não passa” (Santo Agostinho). Nós queremos que o amor, a paz, o bem, a felicidade e tudo que promova e respeite a dignidade da vida permaneçam eternamente.
Movido dos mais sinceros sentimentos de gratidão, de fraternidade e de fé, quero desejar a todos uma Páscoa da superação do medo, das angústias, das incertezas e de tudo que impede a vida de continuar a ser bonita e ser totalmente de Deus. Quero ver acontecer a possibilidade de vida plena, de felicidade e de realização humana e espiritual, uma ressignificação da própria vida a partir de Jesus Cristo Ressuscitado. Ele venceu o fracasso e a morte e deu-nos, através de um Amor eterno, o precioso dom da Vida!
Ressuscitemos com o Senhor Jesus Cristo, pois a vida e o amor querem vencer os limites e imperfeições do sepulcro do coração da humanidade e de muitos corações. Olhemos para o sepulcro vazio e proclamemos com perfeita alegria, com todo o nosso coração, com nossas vozes exultantes e com as nossas vidas ressuscitadas, que Jesus Cristo vive e está presente no meio de nós! Ele ressuscitou!
Que Jesus Cristo Ressuscitado reacenda e fortaleça em nós a esperança! Com Ele podemos crer e esperar que dias melhores, certamente, virão!
“Sejam alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes na oração” (Rm 12, 12). Feliz e abençoada Páscoa!
Desejo também que minhas humildes palavras, talvez, lhes sirvam para um bom momento de reflexão. Se assim for,
Boa reflexão, então!
Convento São Francisco, Campo Grande, MS, 28 de março de 2020