Frei Rogério Viterbo de Sousa, OFM
Cada vez, convenço-me mais, que a fraternidade, lugar da presença e da ação de Deus, deve viver reconciliada e em constante atitude de amor fraterno. Se irmão ofende, calunia, critica na maldade outro irmão, produz um contratestemunho daquilo que é a essência de nossa vida franciscana, a fraternidade. E, muitas vezes, mais do que falar mal sobre alguém que não está presente, esse comportamento sempre vem acompanhado da maledicência. Existem, infelizmente, línguas cheias de maledicência, de intriga e de difamação no mundo que vivemos.
Todos nós estamos cansados de saber que a conversa fiada sobre os outros pode causar grandes danos, além de levar ao pecado as pessoas que tomam parte nesse tipo de conversa maligna. Bem já dizia Platão, há muito tempo atrás, que “Pessoas normais falam sobre coisas, pessoas inteligentes falam sobre ideias, pessoas medíocres falam mal de outras pessoas”. Isto é bem verdade.
Então, o que fazer para não falar mal de outras pessoas e não se tornar medíocre por causa disso? O salmista, no Salmo 141,3, eleva a Deus uma prece: “Guarda a minha boca, ó Senhor; vigia a porta dos meus lábios”. Penso que essa deveria ser nossa atitude frente a este triste costume. Pedir a Deus que nos ajude, nos liberte deste mal e de qualquer tipo de mediocridade. Como já dizia o apostolo São Tiago: “Se alguém não peca pela língua, esse é perfeito” (Tg 3,2).
Na vivência de nossa vocação franciscana, aprendemos que o normal, para nós franciscanos, é e sempre será viver a vida em comunhão com Deus, com os confrades, com todas as pessoas e todas as criaturas. Mesmo para além dos conflitos, devemos escolher e insistir em viver sempre em comunhão. Para tal portento, se faz necessário que nós, desejosos da bênção da paz, mudemos o nosso coração e cuidemos para que nele não se instalem jamais a inveja, a cobiça, a maledicência. A paz só virá para um coração desprendido e, com o nosso coração cheio de paz e de bondade, nos tornaremos, onde estivermos, artífices da paz, e nunca o contrário.
São João Crisóstomo escreveu: “Sejamos muito solícitos para com os nossos irmãos. Será a maior prova da nossa fé: Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros (Mt 13,35)”. E quantos ensinamentos encontramos na Palavra de Deus, que nos advertem contra as falácias, fofocas e maledicências, que nos trazem sábios conselhos e auxílios para enfrentar e vencer este vício do mau uso da língua! Vejamos alguns:
“Protege teus ouvidos com uma sebe de espinhos; não dês ouvidos à língua maldosa, e põe em tua boca uma porta com ferrolhos” (Eclo 28,28).
“Se alguém entre vós diz ser religioso, e não refreia a sua língua, antes engana o seu coração, a religião dele é vã” (Tg 1,26).
“Quem vigia sua boca e sua língua, preserva sua alma de grandes apertos” (Provérbios 21,23).
“Ponde, Senhor, uma guarda em minha boca, uma sentinela à porta de meus lábios” (Salmo 140,3).
Por isso, busquemos domar a nossa língua. Que jamais venhamos a causar danos irreparáveis na vida de pessoas, por causa de conversas maldosas e mentirosas. Eu estou convencido de que quem fala mal da vida alheia possui pouco tempo para avaliar a própria vida. E talvez seja esse o seu objetivo: não querer avaliar a própria vida e continuar a se esconder atrás de seus erros e pecados. Para esse tipo de pessoa, presa neste vício, é melhor sempre falar mal da vida de outras pessoas. Recordo-me de uma fala do Santo Padre, o Papa Francisco, em uma exortação aos religiosos da Ordem dos Clérigos Regulares Teatinos: “Por favor, evitem toda forma de fofoca. Sejam homens consagrados, homens do Evangelho, mas homens. Se você tem algo contra o outro, que garanta suas calças para lhe dizer isso na cara, dizer-lhe as coisas na cara ou ficar calado. Ou esse outro critério, diga-o àqueles que podem remediar, ou seja, aos superiores. Mas não faça grupinhos, essa é a ‘espiritualidade do cupim’, que esvai a força de uma comunidade religiosa. Nada de fofocas, por favor.” Concordo plenamente com o Santo Padre.
Todos bem sabemos que criticar e falar mal das pessoas pelas costas nada nos acrescenta, e à pessoa que é alvo da crítica, muito menos. Visto isso, essa mania de falar, mesmo sem ter sido solicitado, é basicamente um vício de má conduta e falta de respeito dentro de nossas fraternidades e também dentro da sociedade. Todos já erramos em dado momento de nossa caminhada, e não gostamos que falem mal ou apontem os nossos erros. Então, por que apontamos constantemente o erro dos outros e falamos mal de suas vidas? Por quê?
Vou contar um segredo: as palavras que proferimos dizem muito mais sobre nós mesmos do que sobre os outros. Quando alguém chega até nós, falando mal de uma pessoa, destruindo a sua dignidade à surdina, temos três escolhas a fazer: aumentar o número das recriminações; silenciar e nos omitir frente à maldade; ou defender a pessoa atingida, descompondo o acusador. Por uma questão de coerência a tudo aquilo que, franciscanamente, aprendemos, acredito que só temos uma escolha a fazer, que é defender a pessoa atingida, admoestando o acusador para que nunca mais aja desta maneira sórdida. Isso, certamente, poria fim a esta atitude maligna das línguas cheias de maledicência, de intriga, de fofocas, de críticas destrutivas e de difamação. Seria também um ótimo mecanismo para arrancar este mal pela raiz, ainda que fosse apenas um fato isolado neste nosso mundo.
À guisa de conclusão, deixo esta singela oração:
Desejo que minhas humildes palavras, talvez, lhes sirvam para um bom momento de reflexão. Se assim for,
Boa reflexão, então!