Frei Rogério Viterbo de Sousa, OFM
Neste mês de outubro, além de celebrarmos Nossa Senhora Aparecida, o Seráfico Pai São Francisco de Assis e São Benedito, celebramos também Santo Antônio de Sant’Ana Galvão ou simplesmente: Frei Galvão. Nosso primeiro santo nascido no Brasil. Pesquisando sua história, sabemos que Ele nasceu no dia 10 de maio de 1739, na cidade de Guaratinguetá, SP. Filho de Antônio Galvão, português natural da cidade de Faro, em Portugal, e de Isabel Leite de Barros, natural da cidade de Pindamonhangaba, SP.
No ano 1760, ingressou no noviciado da Província Franciscana da Imaculada Conceição, no Convento de São Boaventura do Macacu, na Capitania do Rio de Janeiro. Foi ordenado sacerdote no dia 11 de julho de 1762, sendo transferido para o Convento de São Francisco, em São Paulo. Em 1774, fundou o Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição da Divina Providência, hoje Mosteiro da Imaculada Conceição da Luz, das Irmãs Concepcionistas da Imaculada Conceição.
Frei Galvão faleceu no dia 23 de dezembro de 1822, às 10 horas, com 83 anos, e foi sepultado na Igreja do Recolhimento, que ele mesmo ajudara a construir. Seu túmulo encontra-se diante do altar-mor da Igreja, no Mosteiro da Luz. A celebração da BEATIFICAÇÃO foi aos 25 de outubro de 1998, presidida pelo Papa João Paulo II, na Praça de São Pedro, em Roma, Itália. A celebração de sua CANONIZAÇÃO foi no dia 11 de maio de 2007, no Campo de Marte, em São Paulo, em concelebração presidida pelo Papa Bento XVI.
Após este resumido resgate histórico, confesso que, meditando o exemplo de sua santidade franciscana, sempre me senti impressionado por sua maneira de ser frade franciscano. Frei Galvão era conhecido como “o homem da paz e da caridade”. Franciscano da Paz e da Caridade, também ouso chamar! Paz e Caridade, duas características fundamentais para o seu tempo e imprescindíveis também para o nosso tempo. Dele se escreveu: “Este homem, Frei Galvão, é preciosíssimo a toda esta cidade e vilas da Capitania de São Paulo, é homem religiosíssimo e prudente conselheiro do qual todos vão ao encontro para ter luz e conforto; é homem da paz e da caridade”1.
A paz vivida e praticada por Frei Galvão nos questiona. Ele nos ensina a importância de viver radicalmente a paz nas relações fraternas e na relação com todas as pessoas que encontrarmos pelo caminho desta vida. Ele nos ensina também a cultivar a paz como parte essencial das virtudes próprias da vida franciscana, vivendo-a sem propriedade e sem apegos.
A sua maneira de viver a caridade inquieta-nos e ensina-nos o dom da partilha, a partir da prática do Santo Evangelho, do amor aos pobres e do seguimento fiel de Nosso Senhor Jesus Cristo. A caridade de Frei Galvão é confirmada num depoimento das religiosas mais antigas do Recolhimento da Luz. Assim escreveram elas: “Amava os pobres e muitas vezes pagava as suas dívidas. Mesmo de noite ia visitar os doentes e procurava animar e consolar os aflitos”.
Olhando para a vida de Frei Galvão, compreendemos a importância de se praticar a Caridade, de se amar os pobres e os necessitados. Ela, quando praticada, nos ajudará a sermos benignos uns com os outros e com todas as pessoas, sem excluir ninguém. A Caridade nos levará a vencermos a inveja, a vaidade e não deixará jamais sermos escravizados pelo veneno do orgulho. Lembremos o que disse o Apóstolo São Paulo: “Se eu falasse todas as línguas, as dos homens e as dos anjos, mas não tivesse caridade, eu seria como um bronze que soa ou um címbalo que retine”2.
Antes de concluir, não posso me esquecer de dizer que Frei Galvão era um grande devoto da Santíssima Virgem Maria. Ele consagrou a ela toda a sua vida. Sua devoção e sua consagração à Santíssima Mãe de Deus nos ensina que é impossível chegar à perfeição da fé, da paz e da caridade sem a ajuda e a intercessão de nossa Santa Mãe. Como ele fez, recorramos também nós a ela com grande amor, com fervor e com verdadeira devoção.
Hoje, nós, franciscanos, como gostaríamos de ser chamados, de ser lembrados um dia? Sabemos que o nosso tempo nos desafia e carece de pessoas da bondade e da misericórdia, do amor e da esperança, da justiça e da verdade, da alegria e da ternura, da fraternidade e da amizade, da paz e do bem, da caridade e da coragem. Enfim, de tudo que é bom e preserve a vida.
Oxalá possamos, seguindo o exemplo de Frei Galvão, ser encontrados por nossos irmãos e irmãs, dando testemunho de que nós também buscamos, com toda as nossas forças, ser franciscanos destas e de tantas outras virtudes.
Que, pelo poderoso auxílio de Frei Galvão, o Senhor Deus aumente em nossas vidas e em nossos corações todas as virtudes, especialmente as virtudes da paz, da caridade e do amor!
Para finalizar, deixo o refrão de uma simples canção chamada “Súplicas a Frei Galvão”, que compus para ser cantada na sua celebração:
Com fé nós queremos bendizer
Nosso Santo, com grande devoção,
Suplicar a tua bênção e a tua proteção:
Intercede por nós, ó Frei Galvão!
Desejo que minhas humildes palavras, talvez, lhes sirvam para um bom momento de reflexão. Se assim for,
Boa reflexão, então!
Convento São Francisco, Campo Grande, MS, 06 de novembro de 2020.