Frei Rogério Viterbo de Sousa, OFM
Por aqui estamos vendo com imensa tristeza as situações das queimadas que estão destruindo o nosso lindo Pantanal. A destruição dizima as árvores e os animais. Afeta também as pessoas que vivem naquela região. A situação é lamentável. Sem dizer desta onda de calor insuportável, da baixa umidade do ar, da quantidade de fumaça no céu… Tudo isto provocado pela ação do próprio ser humano. Enfim, uma infinidade de acontecimentos lamentáveis na área ambiental, que produzem prejuízos incalculáveis.
Diante deste angustiante cenário, volta de mansinho ao meu pensar a figura do nosso seráfico Pai São Francisco de Assis. Imagino-o a nos dizer: “Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas! Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã a mãe Terra, que nos sustenta e governa, e produz frutos diversos e coloridas flores e ervas”1.
O Seráfico Pai São Francisco de Assis é exemplo do amor e do respeito à natureza, porque conseguiu tornar-se Irmão de todas as criaturas: irmão do sol, da água, do vento, dos animais, das plantas… Ele é fonte de inspiração para todos nós. Ele é uma inquietação para nossas consciências, por vezes indiferentes e acomodadas diante desta questão.
É urgente que pensemos e tenhamos atitudes de cuidado e de respeito para com a natureza, para com todas as criaturas e para com nosso Planeta. As mudanças têm sido constantes nele. A massa terrestre, os oceanos, a atmosfera, o clima e a vida na terra estão sofrendo com estas mudanças. São mudanças extremas. As tempestades, as ondas de calor, as inundações e as secas tornaram-se constantes nesta aflitiva realidade. As notícias da imprensa por todo o mundo mostram uma crise ambiental e climática, que já está afetando duramente a nossa vida e o nosso futuro na Terra.
Infelizmente, ainda parece que não nos despertamos para esta real problemática. Muitas das nossas ações continuam marcadas pelo egoísmo, pela indiferença, pela omissão e provocam consequências dramáticas. Por exemplo: existem florestas que são o “pulmão da terra” sendo destruídas a cada dia; quantos habitats em rápida degradação! Vários animais e muitas plantas raras que já foram extintos ou correm o risco de serem extintos; cidades e pessoas sufocadas pela poluição e pela ditadura do capitalismo e do consumismo; o degelo dos polos que aumenta cada vez mais; furacões cada vez mais devastadores… Tudo isso, devido ao aquecimento global, que produz o aumento da temperatura dos oceanos.
Retomando o assunto das queimadas, sabemos que elas são uma das principais causas do aquecimento global. A maior parte destas queimadas ocorre por ação humana. Elas devastam totalmente os ecossistemas. Destroem rapidamente a fauna e a flora. Acabam com os microrganismos do solo, tornando-o mais pobre. As queimadas no solo não proporcionam benefícios. Pelo contrário, trazem sérias consequências. De um ponto de vista mais amplo, as queimadas são responsáveis por modificações na composição química da atmosfera e, por extensão, influem de forma negativa sobre as mudanças climáticas do planeta, contribuindo para o aumento do efeito estufa e, portanto, para o aquecimento global.
No caso do nosso Pantanal, as queimadas estão tendo consequências funestas. O fogo está sem controle e está queimando desde meados de julho deste ano o Pantanal, deixando um rastro enorme de destruição. O nosso Pantanal é o principal bioma ameaçado. Os incêndios agora estão destruindo um dos ecossistemas de maior biodiversidade do planeta, dizem os biólogos.
Até quando iremos assistir esta cruel realidade de destruição? Até quando vamos esperar para agir? É impossível continuarmos a viver assim! Sem respeito pelo outro e sem respeito pelo nosso Planeta. Somos todos responsáveis, todos nós somos cidadãos do Planeta. Cada um de nós pode e precisa fazer alguma coisa para que esta “Casa Comum” continue habitável e se torne o lugar mais belo que todos gostariam de encontrar no futuro. O respeito pela natureza deve sempre ser ensinado por todos nós, seja pela palavra, seja pelo exemplo, desde os mais pequeninos até aos idosos.
Recorro novamente para a figura do Seráfico Pai São Francisco de Assis, Padroeiro da Ecologia e da sustentabilidade, que fazia questão de destacar os laços da Fraternidade que nos une a todos os seres, para recobrar os nossos esforços e a nossa atitude profética referente ao cuidado da vida, do Planeta, de todas as pessoas e de todas as criaturas.
Vale lembrar que o assunto da sustentabilidade deveria fazer parte constantemente de nossas práticas e reflexões. Discutimos, falamos de muitos assuntos, mas por vezes superficiais e deslocados desta realidade do cuidado, do respeito e da preservação.
No dia 24 de maio deste ano, comemoramos os cinco anos da publicação da Encíclica “Laudato Sì”, do Santo Padre o Papa Francisco, que reflete sobre o cuidado da Casa Comum, que corresponde ao Planeta Terra, a natureza, dos quais fazemos parte. Esta encíclica tem suma importância, pois trata justamente do tema do cuidado, do respeito para com a “Casa Comum” e para com a natureza, de modo a inseri-lo dentre as preocupações prioritárias da Igreja na atualidade.
A “Laudato Sì” nos ensina a construir um mundo melhor juntos. Nós, seres humanos, não estamos dissociados do Planeta Terra ou da natureza. Somos partes de um mesmo todo. Portanto, destruir o Planeta Terra e a natureza equivale a destruir a nós mesmos. Pena que esta Encíclica nem sempre recebeu toda a importância que merece de nossa parte. Talvez esteja aí a falta de nosso compromisso em tornar realidade os seus ensinamentos. Quando não nos reconhecemos parte da Criação, não cuidamos e, pior, até colaboramos para sua destruição.
Desejo que a Encíclica “Laudato Sì” receba mais atenção e continue a nos inspirar, em particular, neste tempo de maior fragilidade que atravessa a nossa “Casa Comum”. Sabemos que, sem tomar nenhuma atitude, a humanidade pode ter que enfrentar situações de calamidades insuperáveis em um futuro mais próximo, que podemos imaginar. É bom que pensemos nisso com mais seriedade e que também ajamos com maior diligência e desvelo.
Como o nosso Seráfico Pai São Francisco de Assis nos ensinou, digamos sempre “Louvado sejas, meu Senhor, por todas as suas criaturas!” e cuidemos sem cessar do Planeta Terra, de todas as pessoas e de todas as criaturas com muito amor, todo o respeito e grande cuidado, porque, afinal de contas, tudo pertence ao Senhor!
Se não for pedir demais, antes de terminar esta humilde reflexão, rezemos a oração da “Laudato Sì”: “Nós Vos louvamos, Pai, com todas as vossas criaturas, que saíram da vossa mão poderosa. São vossas e estão repletas da vossa presença e da vossa ternura. Louvado sejais! Iluminai os donos do poder e do dinheiro, para que não caiam no pecado da indiferença, amem o bem comum, promovam os fracos, e cuidem deste mundo que habitamos. Os pobres e a terra estão bradando: Senhor, tomai-nos sob o vosso poder e a vossa luz, para proteger cada vida, para preparar um futuro melhor, para que venha o vosso Reino de justiça, paz, amor e beleza. Louvado sejais! Amém”2.
Desejo que minhas humildes palavras, talvez, lhes sirvam para um bom momento de reflexão. Se assim for,
Boa reflexão, então!
Convento São Francisco, Campo Grande, MS, 14 de setembro de 2020.