Frei Rogério Viterbo de Sousa, OFM
Há dias que tenho a sensação de que estou cansado de tanto refletir. O simples fato de imaginar que tenho que refletir sobre um assunto já me faz sentir cansaço. Não sei se isso é normal. Atualmente a impressão que tenho é que muitas pessoas também já não querem mais refletir. O imediatismo está tomando conta do nosso agir. Está faltando tempo para uma boa reflexão no mundo em que vivemos. Sem reflexão, a vida vai perdendo seu prumo. Eu sei que vai.
Nunca se teve tanta informação como neste nosso tempo, de forma tão acessível. Parece-me que hoje sabe-se tudo sobre tudo. Ouvi alguém dizendo que atualmente no mundo se celebra a consagração da superficialidade. Muita informação e pouquíssima reflexão. Bem sei que refletir exige esforço e um tempo de qualidade.
Santo Agostinho dizia que pensar é um ato de amor. Consigo mesmo e com o próximo. Sei que no nosso quotidiano somos constantemente confrontados com a necessidade de pensar e refletir. Principalmente refletir antes de falar, agir e tomar decisões.
Todos nós precisamos refletir muito antes de fazer qualquer coisa ou tomar alguma decisão importante. Penso que nisso todos nós concordamos. Não podemos agir por impulso. Precisamos refletir muito bem sobre nossas atitudes, ações e tomadas de decisões.
Vale ressaltar que o simples ato de pensar não seja ainda propriamente a capacidade de reflexão. Reflexão é o movimento pelo qual o pensamento volta-se para si mesmo, interrogando-se profundamente. Neste mundo feito de tantas pressas, agimos precipitadamente, sem reflexão, e por vezes causamos danos a nós mesmos e a quem não deveríamos causar. A reflexão é o meio pelo qual podemos ficar de frente com a retidão de nossa consciência e evitar muitos erros.
Refletir é pensar e repensar sem se cansar. Refletir é voltar-se sobre si próprio e enxergar com clareza o coração, a vida e a melhor decisão a ser tomada. A reflexão nos permite analisar, entender e, somente a partir daí, agir para solucionar problemas que muitas vezes consideramos impossíveis de solucionar. Quando aprendemos a refletir, nos tornamos capazes de olhar para o nosso interior, para o nosso eu. Aprendemos a viver a vida sem jamais deixar de refleti-la com a seriedade que comporta toda gama de reflexão sobre ela. Aprendemos, de tanto refletir, a ter a sabedoria para decidir.
Concluo citando Cora Coralina, que bem disse assim: “Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir”. Que seja o nosso decidir fruto de nossa capacidade incansável de sempre assertivamente refletir, apesar de nossos cansaços.
Desejo que minhas humildes palavras, talvez, lhes sirvam para um bom momento de reflexão. Se assim for,
Boa reflexão, então!
Convento São Francisco, Campo Grande, MS, 14 de setembro de 2021.