Missão Franciscana do MT e MS

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Mensagem do Custódio › 05/12/2020

Palavras do coração franciscano – Um bom augúrio!

Quais são os ensinamentos de São Francisco de Assis?

Um bom augúrio!

Frei Rogério Viterbo de Sousa, OFM

Aprendi, à maneira franciscana, que viver o dom de ser Igreja significa cultivar a proximidade com todas as pessoas e especialmente as mais pobres e necessitadas de ajuda, sempre e não somente nos momentos de celebrações litúrgicas dentro da Igreja. Aprendi também que esta proximidade deveria ser cultivada de vários modos, principalmente nestes dias de dificuldades que enfrentamos por causa da pandemia do novo coronavírus, à espera que isso tudo logo termine.

Como poderíamos nos esquecer daqueles e daquelas que mais sofrem diante desta pandemia e de muitas outras aprisionadas em outros cenários de sofrimento e dor? Como poderíamos ser próximos, neste momento feito de distâncias necessárias? Tememos pela nossa saúde e isso é bom! Mas, por outro lado, parece-me que nos esquecemos de temer pela vida, pela saúde, pela segurança e pela situação das outras pessoas, principalmente daquelas que não deveríamos esquecer.

Por vezes estamos muito preocupados com nossos discursos teológicos, com o  modelo de Igreja que queremos, com a definição de Eclesiologia que preferimos, com as nossas liturgias, nossas pastorais e, nos últimos dias, discutimos sobre a dificuldade de manter nossas paróquias, já que as coletas e o dízimo estão paralisados, sobre o cancelamento das Missas com o povo, de quando será o retorno das Missas e de como será para novamente celebrá-la com a série de recomendações de segurança para nós e para os fiéis. Sei que estas discussões fazem parte do contexto que estamos vivendo. Mas não seria justo da nossa parte, se somente estas realidades fossem o alvo de nossas discussões, reflexões e preocupações. Existem outras realidades também gritantes e urgentes ao nosso redor. Às vezes penso que é mais fácil desviarmos o foco das discussões que são realmente pertinentes e necessárias. Por isso, falar da Missa sem a participação do povo talvez seja uma boa saída para a ocupação do nosso tempo e para “desencargo de consciência”.

Por falar nestes dias sem Missas com o povo e de “jejum eucarístico”, durante esta pandemia, aparenta-me que o tempo não nos ajudou o suficiente para refletirmos sobre o que é essencial e urgente, penso eu. Deveríamos estar imbuídos de uma reflexão mais sincera e profunda sobre o nosso bom testemunho de sermos Igreja solidária, profética e preferentemente próxima de quem precisa. Seria bom, também, que refletíssemos sobre o nosso testemunho de fraternidade e o nosso permanente compromisso com o cuidado da vida, com a defesa dos pobres e dos sofredores.

Todos nós aprendemos que os nossos dias de jejuns e de sacrifícios, especialmente os que fizemos na Quaresma, destinar-se-iam, em parte, para aumentar a nossa consciência da situação de sofrimento pela qual nossos irmãos e irmãs passam, sem escolha, não por um tempo limitado e nem por causa somente da pandemia, mas por causa da miséria, da fome, da opressão ou da falta de condições de vida digna, que lhes são persistentes.

Por que será que já não se ouve e nem se veem mais estas realidades de sofrimentos reais, sendo e fazendo parte de nossas discussões, opções, ações e preocupações? Não quero e nem pretendo, com estas minhas limitadas palavras, generalizar nada e nem julgar ninguém. Apenas me ponho a pensar e no que nós podemos fazer para não pecarmos por omissão, indiferença e medo diante disso tudo. Sei que existem iniciativas já realizadas e merecedoras de reconhecimento.

Talvez este tempo sem Missas, imposto pelo novo coronavírus, possa nos trazer novamente um senso de urgência na preparação de atitudes bem mais coerentes de nossa parte em relação a todos os sofredores. Em minhas humildes orações, rezo para que saibamos repensar a nossa maneira de estar próximos das pessoas que sofrem com a pandemia do novo coronavírus e com os outros tipos de pandemias cruéis como: a do egoísmo, do abandono, da omissão, da miséria, da indiferença, do desamor, da injustiça, da falta de dignidade, enfim, de todo tipo de pandemia que fere a vida.

Então, se todos nós usarmos melhor o nosso tempo, com outras reflexões também necessárias, e procurarmos respostas criativas para estas realidades e seus problemas, poderemos descobrir soluções que possam promover o respeito pela vida, pela sua sacralidade e por todas as pessoas que vivem tendo seus direitos desrespeitados. Quem sabe este tempo de “jejum sem Missas” nos ajude a melhorar a nossa saúde espiritual e nos leve a enxergar o verdadeiro sentido de sermos uma Igreja viva em saída e comprometida, como nos pede o Santo Padre, o Papa Francisco. Uma Igreja que jamais abandona nenhum dos filhos e filhas de Deus.

Não posso deixar de dizer, na minha humilde maneira de viver o franciscanismo, que a celebração da Missa e a Eucaristia só têm sentido se for uma expressão de como vivemos, dia após dia, a nossa vida cristã em consonância com a vontade de Deus e a vivência do santo Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Viver para servir e servir sempre com amor!

Nesse tempo de Missas sem a presença do povo, pude também pensar e cheguei à conclusão de que muitos médicos, enfermeiros e enfermeiras nos estão dando um grande testemunho de amor e de cuidado da vida em gestos reais. Estão eles “celebrando” as Missas da misericórdia, da compaixão, do cuidado, do bem, para salvar muitas vidas. É um belo testemunho de proximidade, que me leva a perguntar se o que faço ou estou querendo fazer seja também uma forma de ajudar com ou sem proximidade. Tomara que seja, sim, uma forma comprometida de ajudar aquilo que faço e que devo sempre fazer de bom!

Escutei algumas reflexões acaloradas sobre como é possível ficar sem Missa, sem a celebração da Semana Santa, sem isso e sem aquilo. No meu silêncio, me pus a  pensar que este nosso “jejum” das Missas diárias e dominicais sem a presença do povo de Deus deveria nos oferecer uma comunhão mais íntima com aquelas outras nossas irmãs e com aqueles outros nossos irmãos que ficam sem celebrações eucarísticas durante meses ou até anos seguidos, porque não há padres disponíveis para presidir tais celebrações e nem para participar dos seus encontros. Nós apenas estamos passando por esta realidade por alguns dias e sabemos como nos faz falta e nos é importante.

Assim sendo, desejo que, quando esta pandemia passar, recuperado o direito da saudável proximidade, possamos de fato reavaliar nossas formas de presenças e proximidades. Que ambas nos devolvam novamente a todos aqueles e aquelas que realmente precisam de nossa fraterna ajuda e de nossa verdadeira compaixão. Que nossas discussões, reflexões e preocupações jamais nos façam esquecer de nossas obrigações diante dos preferidos de Deus. Nós sabemos quem são e onde estão. Resta-nos reaprender nossa essência cristã e franciscana e a nossa feliz obrigação de fazê-la viva em nossa vida e no mundo em que vivemos. Se isso fizermos, será um bom augúrio para um futuro que já está próximo de nós.

Desejo que minhas humildes palavras, talvez, lhes sirvam para um bom momento de reflexão. Se assim for,

Boa reflexão, então!

Convento São Francisco, Campo Grande, MS, 21 de abril de 2020.

 

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