Missão Franciscana do MT e MS

Rua 14 de Julho, 4213 - Bairro São Francisco - 79010-470 - Campo Grande, MS

Mensagem do Custódio › 27/12/2020

Palavras do coração franciscano – Uma Cultura de Paz

Quais são os ensinamentos de São Francisco de Assis?

Uma Cultura de Paz

Frei Rogério Viterbo de Sousa, OFM

 O seráfico Pai São Francisco de Assis fez a paz acontecer. Tinha no seu coração, por graça de Deus, o poder de mudar a história. E mudou! Inquieta muito o meu coração franciscano o fato de saber que nós, franciscanos, também precisamos fazer algo para mudar a história do mundo neste nosso tempo.

Vivemos num tempo de incertezas, de violências que atentam contra a vida humana e também contra a vida de todas as criaturas. Nós, franciscanos, somos considerados como fazedores da paz, mas, infelizmente, parece que estamos fazendo pouco ou quase nada para acabar com a cultura de morte e violência, que insiste em prevalecer.

Está faltando sentido neste nosso mundo. Estamos vivendo uma crise de sentido. Basta ver situações concretas desta falta de sentido: a injustiça social, ou seja, o abismo entre pobres e ricos, a corrupção, a destruição de nossa Mãe Terra, a onda de ódio tomando conta de tantos corações etc.

Vemos cada dia cair por terra muitos valores, como a bondade, a solidariedade, o respeito e a tolerância. Mas existe um clamor por mudanças, mesmo que ele não se faça audível. Meu coração franciscano se enche de perguntas inquietantes. Para onde caminhamos? O que será de nós? O que será do mundo, se não houver uma reversão da intolerância e da violência instaladas em nosso cotidiano? Não podemos simplesmente fechar os olhos e fazer de conta que não temos nada a ver com isso. A omissão certamente nos fará ser submissos a este estado lamentável de barbárie. Precisamos construir urgentemente uma cultura de paz. O nosso coração franciscano pode fazer sempre mais, especialmente para que se instale no coração da humanidade e no mundo uma Cultura de Paz.

Para que isso aconteça, penso que é preciso que reaprendamos a respeitar a vida. O nosso Seráfico Pai São Francisco de Assis respeitava cada pessoa, cada ser, desde a minhoca do caminho, a abelha perdida no inverno em busca de alimento, a plantinha silvestre, porque, a seu modo, também louvavam a Deus. É preciso educar o coração e não somente a razão, pois como dizia Albert Schweiter: “Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém   precisará   ensiná-lo   a   amar   seus   semelhantes”1.   Já   chega   da ignorância que faz perder de vista o dom da existência e a excelência da vida em todas as  suas  formas.  Vamos  respeitar  a  vida,  cuidando  com  amor  de  nossas  relações fraternas, da natureza que está à nossa volta. Lembremo-nos sempre de que todo ser vivo é um milagre.

É preciso que rejeitemos qualquer forma de violência. “O primeiro princípio da ação não-violenta é a não-cooperação com tudo que é humilhante”2. Não podemos  jamais  aceitar  a  violência  calados,  quando  praticada  diante  de  nós,  de nossos  ouvidos  ou  de  nossa  consciência.  A  impunidade  e  a  continuidade  de  tantas formas  de  violência  acontecem  também  pela  falta  da  solidariedade,  da  compaixão. Sejamos instrumentos de paz pela prática constante do bem, somente do bem.

É preciso que sejamos, continuamente, generosos. Recordo-me da fala do apóstolo São Tiago, quando diz: Deus é aquele “que a todos dá com generosidade e  sem reprovações”3. Franciscanamente, sabemos que a generosidade é uma caraterística de quem ama a Deus. Nós amamos aos nossos semelhantes e a todas as criaturas: esta deve ser a nossa maneira franciscana de demostrar o nosso verdadeiro amor para com Deus. Pratiquemos cada vez mais a generosidade, para que ela seja uma atitude inerente e natural ao nosso jeito franciscano de ser e de viver.

É preciso que pratiquemos a arte da escuta. Se quisermos bem compreender, é importante primeiramente saber escutar. Existe um ditado que diz que Deus nos deu duas orelhas e uma boca, para nos advertir que devemos escutar mais do que falar. Mas não é o que fazemos, na maioria das vezes.

Falando de escutar, como não se lembrar de Rubem Alves? “O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranquila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: ‘Se eu fosse você’. A gente ama não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa. E é na não-escuta que ele termina”4. Escutar é mesmo uma arte, e para nós, franciscanos, será habitualmente uma arte do amor e do servir.

É preciso que redescubramos o valor da solidariedade. Redescobrindo-o, poderemos torná-lo realidade através de nossas atitudes a quem precisar. A solidariedade é uma das ferramentas para a saída de qualquer crise e para a transformação do mundo. Jesus é o grande exemplo de solidariedade e de doação para nós, franciscanos, e para todas as pessoas. Sendo solidários, poderemos criar um mundo melhor e nos tornaremos cada vez mais fortes e cheios de amor para amar e servir.

Por último, é preciso que preservemos o nosso Planeta. Ao escrever a Encíclica “Laudato Si” sobre o cuidado da Casa Comum, o santo Padre, o Papa Francisco,

convidou a todas as pessoas a serem responsáveis por fazer este cuidado acontecer. Quanto mais nós, que somos franciscanos, devemos de fato fazer acontecer. Por uma questão de respeito, de amor, de cuidado e de sobrevivência, é indispensável que preservemos o nosso Planeta e o meio ambiente que existe nele. Se assim o fizermos, estaremos demonstrando o profundo respeito a Deus, que é o nosso Criador e o Criador de tudo. Nós, franciscanos, precisamos também compreender e a todas as pessoas ensinar que não somos donos do Planeta e da natureza. Somos também parte deles.

À guisa de conclusão desta humilde reflexão, desejo profundamente, a exemplo de nosso Seráfico Pai São Francisco de Assis, que nos empenhemos com todo o nosso coração para que todos os valores da Cultura da Paz se tornem realidade na liturgia diária da nossa existência. Que jamais nos cansemos de traduzir cada um dos desafios propostos pela Cultura de Paz em realidade, na vida do mundo e de todas as pessoas. Em nossa forma franciscana de enxergar com esperança o mundo e todas as pessoas, acreditamos que a Cultura de Paz se insere em um marco de respeito aos direitos humanos e constitui terreno fértil para que todos eles aconteçam verdadeiramente.

Que a experiência do amor fraterno, a experiência do cuidado e a experiência da gratidão do nosso Seráfico Pai São Francisco de Assis, o Irmão Universal, inspirem nossa coragem de fazer acontecer a implantação da Cultura da Paz no mundo e em todos os corações! Que ele nos ensine a viver nossa relação fraterna de respeito e cuidado para com todas as pessoas e para com todas as criaturas!

Desejo que minhas humildes palavras, talvez, lhes sirvam para um bom momento de reflexão. Se assim for,

Boa reflexão, então!

Convento São Francisco, Campo Grande, MS, 02 de outubro de 2020.

 

Deixe o seu comentário





* campos obrigatórios.

Cadastre-se e receba nossas novidades

X