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Artigos › 27/07/2021

Prosélitos e tementes a Deus: Propulsores do cristianismo primitivo

Afresco em um túmulo na Catacumba dos Santos Marcelino e Pedro, em Roma.

Frei Luiz Iakovacz

Ao lermos Atos dos Apóstolos, salta aos olhos o vertiginoso crescimento numérico de cristãos: de 3 mil em Pentecostes (2,41), logo passa para 5 mil (4,4) e, assim, sucessivamente, até chegar a uma “multidão de homens e mulheres” (5,14), inclusive, de sacerdotes israelitas (6,7) e pagãos (14,13-18). Tanto é verdade que, ao findar o século I, estava presente em todo o Império Romano.

A razão fundante deste crescimento é o Espirito Santo. Ele “enche os apóstolos de sabedoria” para testemunharem Jesus diante do Sinédrio (4,8) e dos Procuradores romanos (26,1-3).

Motiva a comunidade de Antioquia para a missão (13,2-3), persiste com Paulo para que evangelize a Europa à qual não estava propenso (16,6-10). É Ele que prepara a família do Centurião Cornélio para acolherem o Evangelho (10,1-8). Enfim, o Espírito Santo é citado 55 vezes, agindo nas mais diversas situações. Por isso, na Igreja Primitiva, era conhecido como “Evangelho do Espírito Santo”.

Ele inspira grupos e pessoas, e os impele à missão: o Colegiado dos Doze, os Sete Diáconos (6-8), as duplas Barnabé/Paulo (11,25; 13,6-7), Priscila/Áquila (18,1-4), Timóteo/Tito e outros.

Inspira missionários itinerantes, como o ‘vaticinista’ Ágabo (11,27-30), o `biblista´ Apolo (18,24-28) e um número de mulheres, como a rica Lídia (16,14-15), as incansáveis Maria e Julia, Trifosa e Trifena, Pérside e Olímpia (Rm 16,6-16).

Todos estavam comprometidos com Jesus, pois “recebereis o Espírito Santo e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, na Judeia, na Samaria e nos confins do mundo” (1,8), isto é, proclamareis o Evangelho pelo anúncio da Palavra e vivência da mesma.

Para sua maior propagação, os muitos israelitas que moravam fora do país (Judeus da Diáspora) foram de suma importância. Segundo a História, eram tantos quanto os do próprio país.

O motivo desta emigração era sociológico, pois grande parte dele não possuía terra e o único meio de sobrevivência era ´ser diarista´. A Parábola dos Operários da Vinha comprova-o porque o patrão encontra pessoas desempregadas nas diferentes horas do dia em que passou na praça (Mt 20,1-7). Os endividados estavam sujeitos a serem presos ou escravizados, como relata a Parábola dos Servos Devedores (Mt 18,23-35). Por isso a emigração.

Segundo os historiadores Estrabão e Flávio Josefo, os Judeus da Diáspora estavam presentes em quase todas as cidades do Império Romano. Moravam em bairros à parte com organização administrativa e judiciária próprias. Podiam, inclusive, ter ‘título de cidadão romano’, por aquisição ou privilégio. Tinham suas sinagogas e estavam dispensados de participarem das cerimônias pagãs.

Tudo isso era reconhecido pelo Império que lhes garantia proteção. Porém, os prosélitos e tementes a Deus eram excluídos destes privilégios.

Proselitismo consistia em convencer um pagão a abraçar a religião judaica, cultuando um único Deus e observar a Lei Mosaica e suas tradições.

O AT, seguidamente, alertava Israel que sua eleição de povo escolhido não era para vanglória, mas ser “luz das nações” (Is 42,6; 49,6). E, se Deus “vos espalhou entre os povos é para que os façais saber que não há outro Deus, senão Ele” (Tb 13,3-4). O próprio Cristo fala do zelo que os escribas e fariseus tinham em conquistar novos prosélitos (Mt 23,15).

Os ‘tementes a Deus’ aceitavam Javé como único Deus, enquanto que os ‘prosélitos’ assumiam, também, a Torá, inclusive, a circuncisão. Ambos se ressentiam em não participarem das benesses que os romanos concediam aos Judeus da Diáspora e que, por ocasião da peregrinação ao Templo em Jerusalém, terem acesso somente até o ‘pátio dos gentios’. Não podiam entrar na casa de um judeu (vice-versa) e, muito menos, de participarem das refeições.

Ao serem evangelizados, sentiam-se atraídos pela pessoa de Jesus Cristo e sua doutrina. Sendo Deus, assumiu, livremente, as condições de uma vida humana, viveu como pobre, convivia com os excluídos e fazia refeição com eles. Atraía-lhes a consciente postura frente às questões de comida, do puro/impuro, do sábado e suas tradições. Atraía-lhes as pregações feitas mais nas casas, ao ar livre ou nas perguntas dos interlocutores do que no Templo e sinagogas. Acima de tudo, de um Deus que deu sua vida, livremente, para salvar a todos, indistintamente.

Com Jesus, por assim dizer, ‘sentiam-se em casa, pois Ele era um deles’. Mais ainda, Jesus não só pregou o Evangelho e retornou ao Pai – como que ‘deixando-os órfãos’ – mas porque continua presente na Eucaristia, dando-lhes “coragem, pois Eu venci o mundo” (Jo 16,33) e “eis que estarei convosco todos os dias até o fim dos tempos” (Mt 28,20).

Que todo o bem seja feito para o “louvor de Cristo, amém”, diz São Francisco.


Fonte: Franciscanos – Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil (OFM)

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