Missão Franciscana do MT e MS

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Artigos › 17/09/2021

Palavras do coração franciscano – A Santa Cruz

Frei Rogério Viterbo de Sousa, OFM

 Alguns dias atrás, celebramos a Festa da Exaltação da Santa Cruz. Em minha meditação diária, logo veio à minha mente a fala de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Se alguém quiser seguir-me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga- me” (Mt 12,24). Fiquei por um longo tempo refletindo a profundidade deste seu exigente convite. “Renunciar a si mesmo” e “tomar a sua cruz” ditaram a tônica de meus pensamentos e da minha humilde reflexão. Sei que não é tarefa fácil embrenhar-se numa sincera reflexão, onde a cruz e a renúncia devem fazer repensar a própria vida e a caminhada.

Isto digo, pois, atualmente, existe uma tentação muito forte em ignorar tudo aquilo que está relacionado com a renúncia e especialmente com a cruz. Contudo, estas realidades pertencem ao coração da mensagem cristã. Sabemos disto, mas nós já não gostamos nem de pensar e sequer de falar destas realidades. O desejo em voga e da moda no coração de tanta gente é poder viver uma vida “light”, sem renúncias, sem sofrimentos e principalmente sem cruz.

Aprendi, desde tenra idade, que ser um bom cristão é, essencialmente, querer sempre seguir Nosso Senhor Jesus Cristo no caminho do amor e do dom da vida. E vivendo a vocação franciscana, aprendi, também, que ser franciscano é fazer como o Seráfico Pai São Francisco de Assis fez em sua vida. Ele fez de Nosso Senhor Jesus Cristo a referência fundamental à volta da qual construiu toda a sua existência. Ele soube, pelo caminho da altíssima pobreza e da humildade, renunciar a si mesmo e a tomar a mesma cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Por isso que o Seráfico Pai São Francisco de Assis é chamado o Santo da Alegria na Cruz. A cruz é, para ele, a fonte mais pura da verdadeira e perfeita alegria. É bem por isso que a verdadeira e perfeita alegria franciscana nutre-se do fidedigno e perfeito Amor escondido no milagre da Santa Cruz.

Franciscanamente, fui então descobrindo o valor da Santa Cruz. Como consequências desta descoberta, fui compreendendo como se percorre o caminho da renúncia que nos torna capazes de vencer o egoísmo e a autossuficiência, para fazer da nossa vida um dom a Deus e a todas as pessoas. E que este caminho produz a libertação, que nos ajuda a chegar ao amor verdadeiro, que nos torna discípulos de Nosso Senhor Jesus Cristo e aptos para integrar a comunidade de seus seguidores e do seu Reino.

Fui compreendendo também o sentido da Santa Cruz como a expressão de um amor total, radical, que se dá até à morte. Que, carregando a cruz com fidelidade a cada dia, tornamo-nos capazes de gastar a vida de forma total e completa por amor a Deus. Que, gastando a vida desta maneira, se consegue fazer com que os irmãos e as irmãs sejam muito mais felizes, pois não lhes faltará jamais, da nossa parte, o amor.

Por fim, cheguei à conclusão de que, abraçando a Santa Cruz, poderemos descobrir a felicidade em tons reais. Assim descobriu o Seráfico Pai São Francisco de Assis, pois viveu a lógica de Deus abraçado com a Santa Cruz.

Como ele, somos chamados a viver com toda coragem e fidelidade esta mesma lógica de Deus e não a lógica deste nosso mundo. Viver também nós, abraçados à Santa Cruz, com todo entusiasmo, a lógica de Deus, que nos faz viver nossa vocação franciscana na entrega da vida a Deus, aos irmãos e às irmãs. Que nos garante que a vida só faz sentido se assumirmos os valores do Reino e vivermos simplesmente para amar, na partilha, no serviço, na solidariedade, na humildade e na simplicidade.

Contudo, vivendo assim nossa vocação franciscana, não nos esqueceremos jamais de que só há lugar na comunidade dos seguidores de Nosso Senhor Jesus Cristo para quem escuta os desafios de Deus, para quem abraça a Santa Cruz e aceita fazer da sua vida um serviço incondicional aos irmãos e irmãs, particularmente aos humildes, aos pequenos e aos pobres.

Finalizo esta reflexão citando um ensinamento de Santo Agostinho: “Se você quer seguir a Cristo, tudo se converte em cruz, sejam as ameaças, as adulações ou proibições. Resista, suporte, não se deixe abater”. Que saibamos viver abraçados à Santa Cruz, pois não existe cristão, muito menos um franciscano, sem a cruz.

Desejo que minhas humildes palavras, talvez, lhes sirvam para um bom momento de reflexão. Se assim for,

Boa reflexão, então!

Convento São Francisco, Campo Grande, MS, 16 de setembro de 2021.

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