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Mensagem do Custódio › 18/12/2020

Palavras do coração franciscano – Santa Clara de Assis: santidade, amor e claridade

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Santa Clara de Assis: santidade, amor e claridade

Frei Rogério Viterbo de Sousa, OFM

 Como encontrar palavras transparentes e ternas para falar de Santa Clara de Assis? Tarefa difícil. Nesta aventura de poder escrever, creio que seja melhor deixar o meu coração franciscano dizer o que e como escrever para me referir à nossa amada Santa Clara de Assis. Sei que a santidade, o amor e a claridade de sua vida continuam iluminando o mundo, a Igreja, os Franciscanos, as Irmãs Clarissas e a muitas outras pessoas com o mesmo frescor original de sua vida há mais de 800 anos.

Santa Clara de Assis, Plantula Sancti Francisci1 (“Plantinha de São Francisco”), é a mais bela flor do jardim franciscano. Por onde passou, ela sempre exalava o suave perfume da santidade a quem dela se aproximou e ainda hoje se aproxima. Ela, franciscanamente, mostrou-se como uma pessoa alegre, vibrante, positiva, aberta à vida, cortês, afetuosa, simples e delicada. Contando os feitos do Esposo de mais nobre linhagem, revelou-se como esposa apaixonada de Jesus Cristo pobre. Ensinou-nos a desejar, a olhar, a abraçar com amor apaixonado a Nosso Senhor Jesus Cristo como Espelho do Pai, sob a iluminação do Espírito Santo.

Em inexorável fidelidade ao Seráfico Pai São Francisco de Assis, ela aprendeu a nutrir-se pela fé e pelas palavras do santo Evangelho. Santa Clara de Assis foi, sem dúvida, uma mulher que marcou profundamente a sua época. Como primeira mulher franciscana, viveu a sua experiência de Deus no silêncio do Mosteiro de São Damião. Mas a claridade das suas virtudes de santidade ultrapassou para além dos muros deste santo mosteiro. A influência que ela exerceu no mundo do seu tempo não se confinou a Assis e às suas redondezas. A sua influência ultrapassou os limites geográficos e temporais e perdura até os dias de hoje.

Em toda a sua vida, Santa Clara de Assis jamais esmoreceu, demonstrando uma coerência implacável no seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, ao qual se entregou plenamente. Sem titubear, fez valer a sua generosa decisão em abandonar  os prestígios e as seguranças da vida nobre para viver de forma humilde e pobre a radicalidade do santo Evangelho. Seu exemplo é para todos nós de uma atualidade que faz tremer e inquietar o nosso coração franciscano, no desejo de viver com mais santidade a nossa vida.

Santa Clara de Assis enxergou o mundo com os olhos da fé. Por isso sua pobreza foi e continua até hoje sendo fecunda. Era muito mais do que ausência de bens materiais, era um vazio acolhedor, era condição necessária para que se pudesse receber toda a graça de Deus. A dimensão contemplativa em Santa Clara de Assis tornou visível a presença de Deus em todos e em tudo. Ela tornou sua própria vida, vivida na pobreza, no serviço e na oração, um louvor agradável a Deus.

Neste tempo que vivemos, o ideal de vida de Santa Clara de Assis parece loucura frente aos modismos egoístas e aos imperativos do capitalismo, que muitas vezes escravizam a humanidade. Seu despojamento radical, sua vida de pobreza, sua bondade gratuita, enfim, tudo nela é, para nossas consciências adormecidas e indiferentes, uma denúncia gritante. Em um mundo povoado por ideias superficiais, de sede de poder, de acúmulo de bens materiais, de busca insana pelo dinheiro, de egoísmos e de injustiças, Santa Clara de Assis segue atual e viva como um inquietante exemplo. Sua vida quer nos lembrar de que o seguimento de nosso Senhor Jesus Cristo tem que passar pelo desprendimento, pelo desapego e pelo esvaziamento capaz de nos aproximar do Reino pregado por Ele. Somente desta forma o verdadeiro seguimento se tornará possível também para nós.

Olhando a partir do coração de Santa Clara de Assis, podemos intuir, singelamente, que a pobreza, a humildade, a doçura são certamente um abraço de fidelidade e entrega incondicional a Nosso Senhor Jesus Cristo. Contagia-nos o fervor do coração apaixonado de Santa Clara de Assis, repleto de tanto amor e tanta ternura pelo Senhor, seu Esposo. Ela é uma exortação constante ao verdadeiro amor para com o Senhor e para com todas as pessoas.

Seu testemunho é, para nós, uma garantia de que viver assim é possível. Seremos cristãos e franciscanos autênticos e melhores se nos consagrarmos à perfeita alegria de quem vive fielmente para e com o Senhor. Desta forma, estaremos abrindo nossa Fraternidade, nossa família, nosso coração franciscano à ação de Deus e pedindo que ela, grande santa franciscana, interceda por nós e traga um pouco mais de claridade aos nossos corações, à Igreja e ao mundo de hoje. Que ela nos inspire hoje e sempre a colocarmos a mente, a alma e o coração no Espelho da Perfeição humana e divina que é nosso Senhor Jesus Cristo, com a mesma intensidade de amor que ela colocou!

Escrevendo  para  Inês  de  Praga,  Santa  Clara  de  Assis  pediu:  “Ponha  a  mente  no espelho  da  eternidade,  coloque  a  alma  no  esplendor  da  glória  […]  e transforme-se  inteira,  pela  contemplação,  na  imagem  da  divindade”2.  É possível compreender que este seu pedido vai muito além do olhar, do colocar e do gostar.  É  escolher  e  desejar  ardentemente  viver  cada  dia  buscando,  inteiramente, transformar-se   n’Aquele   que   é   o   Único   Amado,   Nosso   Senhor   Jesus   Cristo. Contemplando o “Espelho da Perfeição”, poderemos, como Santa Clara de Assis nos ensinou, deixar-nos inflamar cada vez mais no ardor da caridade, da bondade, da compaixão e da misericórdia de Deus, manifestada no próprio Nosso Senhor Jesus Cristo. A contemplação, para Santa Clara de Assis, foi um caminho de transformação e de comprometimento. Transformação pessoal e comprometimento com todas as pessoas, que também são espelhos do rosto de Deus. Por isso, ela nos ensina que contemplar é poder ver o mundo com os olhos de Deus e que somente a partir daí conseguiremos realizar as mudanças possíveis na nossa vida e no mundo em que vivemos.

Que ela nos guie pelo caminho da simplicidade, da humildade fraterna, da pobreza evangélica, numa vida honesta e santa, alimentada pelo Pão da Palavra e pelo Pão da Eucaristia e sempre solidária com os pobres e excluídos.

Enfim, que nós possamos aprender do Seráfico Pai São Francisco de Assis, assim como Santa Clara de Assis aprendeu, a arte divina de conciliar os contrários desta nossa desassossegada vida e a transformar sempre o amargo em doçura.

Gostaria de concluir esta módica reflexão com as mesmas palavras de bênção que Santa Clara de Assis compôs para as Irmãs Clarissas: “Eu vos abençoo na minha vida e após a minha morte, quanto posso e mais do que posso, com todas as bênçãos que o Pai das misericórdias concedeu ou venha a conceder aos seus filhos e filhas no Céu e na terra, e com as quais um pai ou uma mãe espiritual abençoa ou abençoará seus filhos e filhas espirituais. Amém!”3.

Que Nosso Senhor Jesus Cristo conceda-nos o dom da fidelidade, para não perdermos de vista “o ponto de partida”4 de nossa vocação franciscana, e assim prosseguirmos alegremente até o fim.

Que o Senhor esteja sempre conosco! E oxalá nós também estejamos sempre com  Ele! Amém! Santa Clara de Assis, rogai por nós!

Desejo que minhas humildes palavras, talvez, lhes sirvam para um bom momento de reflexão. Se assim for,

Boa reflexão, então!

Convento São Francisco, Campo Grande, MS, 03 de agosto de 2020.

 

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