Missão Franciscana do MT e MS

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Mensagem do Custódio › 04/12/2020

Palavras do coração franciscano – Saudades em tempo de pandemia

Quais são os ensinamentos de São Francisco de Assis?

Saudades em tempo de pandemia

Frei Rogério Viterbo de Sousa, OFM

As ideias que me povoam o pensamento são modestas e feitas de saudades. Saudades das coisas simples e por vezes ignoradas, sem receberem o devido valor e a atenção merecida. Saudades do convívio familiar, do abraço fraterno, do aperto de mão, da proximidade para uma boa conversa, enfim, da normalidade da vida. Neste tempo de pandemia, onde a distância pode salvar, fico pensando quando conseguiremos recuperar a normalidade da vida. Agora se vive o isolamento social, a quarentena, o distanciamento e uma série de recomendações. Abraço, aperto de mão e reuniões de pessoas não são permitidos. A vida ficou perturbada e ferida. A vida perdeu a paz e está limitada ao contato através das novas tecnologias e redes sociais. Não sou contra o progresso. Deus sabe que eu não sou. Mas é muito triste saber que os nossos contados, hoje, na maioria das vezes, são virtuais e já parecem ocupar o lugar dos contatos reais.

Fico me perguntando: quando tudo isso vai passar? Quando a vida voltará a sua normalidade? Quando a proximidade voltará a fazer bem novamente? É angustiante viver a vida tendo que ficar longe de quem amamos. É doloroso, mas ao mesmo tempo sabemos que é um gesto de amor para proteger a vida de quem amamos. É muito estranho tudo isso e não estamos acostumados. A vida é curta demais. Não merecemos perder sequer um segundo.

Como era bom quando os abraços eram os únicos apertos da vida! Quando um aperto de mão era apenas um respeitoso cumprimento, uma ajuda para levantar alguém! Quando a proximidade era sinal de unidade! Quando a vida era feita de encontros! Nestes tempos, tudo isso ficou proibido… Foi tirado de nós, pois a não realização dos mesmos tornou-se medidas de enfrentamento e de cuidado. Quem diria que chagaríamos a tal ponto! Mas, infelizmente, chegamos.

Isso tudo tem gerado em nós a perversa ansiedade. Ficar sem fazer nada, no ócio, pode agravar a situação. É importante estarmos com a mente ocupada. O desafio também é aprendermos como gerenciar a ansiedade produzida por essa enfadonha realidade.

Confesso que tenho fugido dos noticiários, pois já não aguento mais ver tantas notícias tristes provocadas por esta pandemia. É uma enxurrada de informações que nem sempre ajudam a manter a esperança de dias melhores. Não podemos ficar reféns das notícias que chegam, mas é necessário filtrar, principalmente, as que recebemos.

O novo coronavírus continua sendo assunto principal em todos os veículos de comunicação, e nós já sentimos os efeitos econômicos, físicos e mentais desta pandemia. Medidas de prevenção são pedidas e tomadas constantemente. É recomendado o afastamento social devido às previsões alarmantes. Mas quanto tempo essa situação vai durar? Não sei. É muito difícil encontrar uma resposta sensata. Essa sensação, certamente, enche de angústias e de temores os nossos corações.

Como lidar com o isolamento social e não se deixar dominar pelo medo feroz e pela solidão? Esta pandemia do novo coronavírus está cobrando um preço colossal de todos nós e do mundo. Forçando-nos a adotar um novo e, por vezes, estranho estilo de vida solitário e virtual. Sem nenhum pessimismo, podemos constatar que existem apenas algumas estimativas de quanto tempo esse período de isolamento social irá durar. Dentre tantas características assustadoras, uma outra característica desvairada desse coronavírus é como ele transforma até os mais sãos e confiantes entre nós em pessoas hipocondríacas. Isto pode causar em nós o medo, a insegurança, as incertezas e as neuroses. Tudo porque não sabemos como será o amanhã.

Percebo que, surpreendentemente, o mundo mudou. Nós estamos enfrentando mudanças profundas. Mudanças que certamente levaríamos décadas para passar e que a gente levaria muito tempo para realizar voluntariamente. Hoje estamos tendo que realizar estas mudanças de vida, de atitude e de rotina no pavor, em questão de dias e numa velocidade absurda. A vida tem-se tornado uma inquietação generalizada. Acredito que a vida depois desta pandemia será bem diferente. Rezo a Deus para que, mesmo sendo diferente, ela recupere a sua normalidade e nos faça recuperar a verdadeira felicidade de poder, simplesmente, vivê-la.

Desejo, profundamente, que tudo logo passe. Que o único tipo de isolamento social seja dos pensamentos negativos dentro de nossas cabeças e de nossos corações! Que a quarentena seja para permanecer em estado de verdadeira felicidade! Que o distanciamento seja somente daquilo que seja ruim e prejudicial à vida! Que em cada encontro possamos dar e receber todos os abraços possíveis, bem apertados e sorridentes! Que possamos novamente oferecer os apertos de mão, vindos do coração! Que tenhamos o direito de celebrarmos o dom da unidade em aglomerados de pessoas, sem nenhum tipo de preocupação, se não com a fraternidade! Que voltemos a dar valor às coisas simples da vida! Que a vida se faça normalidade de novo e com toda urgência! Já estamos com saudades!

Posso dizer, por experiência própria, que muita gente já deve estar sentindo falta de coisas simples da vida, de contato maior com os familiares, com os amigos e com as pessoas, e até mesmo de alguma rotina costumeira.

Já fui obrigado a ficar arredado, sem poder sair de casa, por um bom tempo, por causa de dengue. Quando pude retomar as minhas atividades, aprendi a dar significação a todas as coisas simples, que tornam a vida mais bonita e gostosa de ser vivida. Coisas simples, que a tecnologia e as redes sociais jamais irão ou poderão substituir. Coisas simples, como gestos, afetos, cheiros, sensações e brincadeiras. Coisas, simplesmente, importantes como a vivência da fé, como o convívio com os familiares e com os amigos verdadeiros.

Que tenhamos a sabedoria de ter o equilíbrio necessário! Sejamos mais humanos e cuidemos ainda melhor da vida, das pessoas que amamos, das criaturas e do mundo que vivemos! Que este tempo de pandemia nos lembre, se nos esquecemos, ou nos ensine, se não soubermos, a dar prioridade àquilo que realmente importa e é essencial!

Passada esta tormenta, gastemos menos o tempo precioso da nossa vida com dependência de tecnologias, de redes sociais, de internet e de celular. Gastemos todo precioso tempo da nossa vida para viver sua normalidade e para amar, servir e estar com as pessoas que amamos e com aquelas que ainda precisam ser amadas por nós! Que esta estadia não se contente e nem se conforme com a virtualidade, mas seja vivida na realidade dos encontros saudáveis e demorados!

Sei que, com a ajuda de Deus e fazendo a nossa parte, venceremos esta luta pela vida! Que a necessidade de mudança de hábitos e de conceitos dentro de nós mesmos nos leve a compreender que precisamos mudar, para fazer a vida ser melhor do que ela era antes da pandemia! A vida normalmente feliz: é isto que ela precisa ser e, se Deus quiser, há de ser novamente! Eu acredito!

Desejo que minhas humildes palavras, talvez, lhes sirvam para um bom momento de reflexão. Se assim for,

Boa reflexão, então!

Convento São Francisco, Campo Grande, MS, 16 de abril de 2020.

 

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