Missão Franciscana do MT e MS

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Mensagem do Custódio › 30/11/2020

Palavras do coração franciscano

 

Quais são os ensinamentos de São Francisco de Assis?

Frei Rogério Viterbo de Sousa, OFM

Enquanto eu bebia o meu café nesta manhã, fiquei pensando que, nos dias atuais, estamos nos acostumando a viver a vida no piloto automático. Isso mesmo, no piloto automático. Viver no piloto automático é continuar repetindo padrões e estabelecendo uma rotina de comportamento, dia após dia. É um estado mental em que as ações são desempenhadas sem intencionalidade.

Quando nos damos conta, a vida se tornou uma pesada rotina, que realizamos por realizar. E, assim, passam-se os dias, semanas, meses e anos. Cheguei à conclusão de que muitas vezes já nem pensamos nas coisas que acontecem e nem nas pessoas ao nosso redor. Vivemos, por vezes, sem sentido, sem propósito e sem intenção de ser e fazer melhor.

A vida é tão complexa e contribuímos para que seja mais complexa ainda. Parece que a nossa motivação é sempre buscar o que não temos. Fazemos desta realidade um meio para justificar nosso desejo de felicidade. Como se a felicidade estivesse condicionada ao simples fato de termos.

Recentemente estava meditando sobre a liquidez deste nosso tempo e lembrei-me de um grande filósofo alemão do século XIX, Arthur Schopenhauer (1788-1860). Li uma de suas reflexões filosóficas (“O mundo como vontade e como representação”), onde ele afirma: “É necessidade, carência, logo, sofrimento, ao qual consequentemente o homem está destinado originariamente pelo seu ser. Quando lhe falta o objeto do querer, retirado pela rápida e fácil satisfação, assaltam-lhe vazio e tédio aterradores, isto é, seu ser e sua existência mesma se lhe tornam um fardo insuportável. Sua vida, portanto, oscila como um pêndulo, para aqui e para acolá, entre a dor e o tédio”. “As pessoas comuns pensam apenas como passar o tempo. Uma pessoa inteligente tenta usar o tempo”.

Confesso que essas palavras inquietaram profundamente o meu coração franciscano. Martelavam minha mente, esperando uma resposta. Não uma resposta qualquer, mas uma resposta que trouxesse a quietude novamente.

Sei que somos levados a acreditar que a nossa felicidade está condicionada às nossas conquistas e que sempre devemos estar lutando para conquistar algo novo. Por que será, então, que nossas conquistas não nos deixam num estado equilibrado de felicidade? Como viver de fato a vida, a nossa consagração religiosa, que, a meu ver, são nossas maiores conquistas? Perguntas e mais perguntas, que tocam no fundo da minha alma.

Hoje, nesta era digital, parece que a felicidade está no tempo de apenas dois cliques, pois o que desejamos rapidamente basta apenas clicar. Tudo num passe de mágica, então acontece. A velocidade para se conseguir o que queremos é assustadora e instantânea. Para nós o rápido se chama felicidade e o lento sofrimento. Não queremos e nem gostamos de nada demorado.

Neste tempo de liquidez (mundo líquido) que vivemos, nossos desejos materiais são realizados num átimo, mas, por outro lado, com a mesma velocidade, ele nos oferece o tédio de uma vida rotineira e sem graça por ter conseguido tudo instantaneamente. Cansados deste triste processo, somos levados a sentarmo-nos diante da televisão, do computador, do celular e a buscar distração nas redes sociais. Gastamos horas e horas nos distraindo e brincando com o tempo. Apesar de tudo isso, seguimos insatisfeitos. Queremos viver e gastar nossas forças somente naquilo que nos falta e que, supostamente, nos faria felizes, mesmo que momentaneamente. A felicidade parece nos faltar e, por isso, somos
aprisionados neste penoso processo.

Mas eu dizia para mim mesmo: deve existir outra maneira de sermos felizes, com equilíbrio e de forma mais duradora. É necessário que aprendamos de uma vez por todas que a felicidade é dom de Deus, mas que não vem pronta lá do céu. Não podemos dizer: “Ah! Como eu seria feliz se eu fosse feliz!” Precisamos ser de fato! O tempo para a felicidade se chama agora!

Apelando para a fé, nós que somos religiosos franciscanos, já aprendemos a ter a compreensão e a convicção de que a nossa felicidade consiste em ser, com todo o coração e com toda a alma, aquilo que Deus escolheu para nós: sermos, franciscanamente, Franciscanos! Sempre Franciscanos!

E nós sabemos que é franciscano ser, simplesmente, feliz!

Bom, sem nenhuma pretensão de apresentar um profundo tratado filosófico, desejo que minhas humildes palavras, talvez, lhes sirvam para um bom momento de reflexão. Se assim for,

Boa reflexão, então!

Convento São Francisco – Campo Grande, MS, 22/03/2020

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