Imagem ilustrativa: Zurbarán (1627), domínio público
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
♦ Cristo Jesus, ontem, hoje e sempre. Um nome a venerar, uma vida a copiar, um amor a amar, uma água a beber, um caminho a percorrer. Sempre está ele diante de nossos olhos. Por vezes, é verdade, andamos meio distraídos. Fazemos as coisas por fazer. Rezamos as rezas por rezar. Vivemos a vida por viver. Repetimos o seu nome como pronunciamos as outras palavras. Por isso, bom quando chega a primeira sexta-feira que evoca o amor de Deus manifestado no peito aberto de seu Filho, Jesus.
♦ Pedro Crisólogo foi bispo de Ravena a partir de 433. É conhecido pela beleza de seus sermões e, por isso, cognominado de “boca de ouro”. Quero agora transcrever parágrafo de um de seus sermões.
Através da pena do autor, Cristo Jesus nos fala.
Talvez vos perturbe a enormidade de meus sofrimentos causados por vós. Não tenhais medo. Esta cruz não me feriu a mim, mas feriu a morte. Estes cravos não me provocam dor, mas cravam mais profundamente em mim o amor por vós. Estas chagas não me fazem soltar gemidos, mas vos introduzem mais em meu coração. O meu corpo ao ser estirado na cruz, não aumenta o meu sofrimento, mas dilatam os espaços do coração para vos acolher. Meu sangue não é uma perda para mim, mas é o preço do vosso resgate (Liturgia das Horas II, p. 595).
♦ Que dizer mais, depois desta luminosa reflexão? Reconhecemos que o mais belo de todos os filhos dos homens, o filho de Maria de Nazaré, nos impressionou ao longo de toda sua trajetória humana. Do nascimento à morte. Escutamos hoje suas palavras e parábolas. Elas ressoam como novas aos nossos ouvidos. Procuramos entrar na sala de Simão onde uma pecadora lavou os pés de Jesus e enxugou-os com seus cabelos. A olhar pela janela a refeição de Jesus com Zaqueu. Escutando Pedro dizer: “A quem iremos, Senhor, só tu tens palavras de vida eterna!”
♦ Mas, o final da vida de Jesus e essa cruz, esse lado aberto no peito, esses cravos, esse grito final “Pai em tuas mãos entrego o meu espírito”, sempre nos deixam perplexos. Essa conversa inventada pelo brilhante Pedro Crisologo pode ser uma declaração de amor do Senhor, a última quando as cortinas estavam para ser fechadas. Tudo, tudo mesmo que viveu Jesus serviu para “dilatar os espaços do coração para nos acolher”. Diante da cruz só cabe repetir o lamento choroso de Francisco de Assis pelas ruas: “O amor não é amado”.
♦ Terminamos ainda com Pedro Crisólogo:
“Vinde, pois, convertei-vos e pelo menos assim, experimentareis a bondade do Pai, que paga os males com o bem, as injúrias com amor, tão grandes chagas com tamanha caridade” (p. 695).
Fonte: Franciscano – Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil – OFM