O Papa rezou a oração do Angelus ao meio-dia deste VI Domingo do Tempo Comum, com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro. Na alocução que precedeu a oração mariana o Santo Padre ateve-se ao Evangelho do dia.
No Evangelho da liturgia de hoje Jesus diz: “Não penseis que vim para abolir a Lei ou os Profetas; não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento”. Dar cumprimento: esta é uma palavra-chave para entender Jesus e sua mensagem. O que isso significa? Para explicar isso, disse Francisco, o Senhor começa por dizer o que não é cumprimento. A Escritura diz “não matarás”, mas para Jesus isto não é suficiente se depois se ferem os irmãos com as palavras; a Escritura diz “não cometerás adultério”, mas isto não é suficiente se depois se vive um amor manchado por duplicidade e falsidade; a Escritura diz “não jurarás falsamente”, mas não é suficiente fazer um juramento solene se depois se age com hipocrisia. Assim, não há cumprimento, observou o Santo Padre.
Gratuidade do amor de Deus, que nos ama por primeiro
Para nos dar um exemplo concreto, Jesus se concentra no “rito da oferenda”. Ao fazer uma oferenda a Deus, se retribuía a gratuidade de seus dons; era um rito muito importante, tanto que era proibido interrompê-lo, exceto por motivos graves. Mas Jesus afirma que é preciso interrompê-lo se um irmão tem algo contra nós, a fim de ir primeiro reconciliar-se com ele: só então o rito se cumpre. A mensagem é clara, acrescentou:
Deus nos ama primeiro, gratuitamente, dando o primeiro passo em direção a nós sem que o mereçamos; e então não podemos celebrar seu amor sem, por nossa vez, dar o primeiro passo para nos reconciliarmos com quem nos feriu. Assim, há cumprimento aos olhos de Deus, caso contrário, a observância externa, puramente ritual, é inútil. Em outras palavras, Jesus nos faz compreender que as normas religiosas são úteis, são boas, mas são apenas o começo: para dar-lhes cumprimento, é necessário ir além da letra e viver seu significado. Os mandamentos que Deus nos deu não devem ser trancafiados nos cofres asfixiantes da observância formal, caso contrário, permanecemos em uma religiosidade exterior e distante, servos de um “deus patrão” e não filhos de Deus Pai.
O Pontífice ressaltou que este problema não existia apenas no tempo de Jesus, ele também está presente hoje.
O amor de Deus por nós, sem limites
Às vezes, por exemplo, ouvimos: “Padre, eu não matei, não roubei, não fiz mal a ninguém… “, como se dissesse: “Eu estou bem”. Aí está a observância formal, que se contenta com o mínimo indispensável, enquanto Jesus nos convida ao máximo possível. Lembremo-nos: Deus não raciocina por cálculos e tabelas; Ele nos ama como um enamorado: não ao mínimo, mas ao máximo! Ele não nos diz: “Eu te amo até um certo ponto”. Não, o amor verdadeiro nunca é até um certo ponto e nunca se dá por satisfeito; o amor vai além, não pode passar sem ele. O Senhor nos mostrou isto dando sua vida na cruz e perdoando seus assassinos. E ele nos confiou o mandamento que lhe é mais caro: que nos amemos uns aos outros como Ele nos amou. Este é o amor que dá cumprimento à Lei, à fé, à vida!
A Virgem Maria nos ajude a cumprir nossa fé e nossa caridade
A este ponto, o Santo Padre questionou:
Como eu vivo a fé? É uma questão de cálculos, de formalismos, ou é um caso de amor com Deus? Estou satisfeito por não fazer o mal, por manter a “fachada”, ou tento crescer no amor por Deus e pelos outros? E, de vez em quando, eu me pergunto sobre o grande mandamento de Jesus, me pergunto se amo meu próximo como Ele me ama? Pois talvez sejamos inflexíveis no julgamento aos outros e nos esqueçamos de ser misericordiosos, como Deus é conosco.
Francisco concluiu pedindo à Virgem Maria, que observou perfeitamente a Palavra de Deus, que Ela nos ajude a cumprir nossa fé e nossa caridade.
Fonte: Vatican News